sábado, 12 de maio de 2018

RUSHDOONY SOBRE LIBERTARIANISMO

Rushdoony, em "The One and The Many", defende que o libertário pode ser identificado com um daqueles "cientistas" aos quais Ortega & Gasset se referiu [o "Barbarismo dos especialistas"], por assumir que "a civilização existe da mesma forma que a crosta terrestre ou a floresta primitiva." O quadro complica-se com a influência do darwinismo, quando a civilização e a cultura passam a ser vistas como produtos da evolução humana. Estes bárbaros ameaçam séculos de desenvolvimento.

Alguns libertários, ele explica, desejam voltar à formulações teóricas do séc. XVIII - a saber, uma fé morta. Em parte, eles reconhecem a crise dos valores do momento presente e desejam de alguma forma desenhar um novo tipo de valor a partir da ciência e da factualidade bruta. Querem extrair da deusa natureza, através de testes, medições ou através da lei natural, algum argumento que prove que a natureza permite a existência da liberdade. Para Rush, "esse procedimento apenas sublinha a subserviência do homem e sua liberdade ilusória à natureza, uma força cega ou energia em movimento". 

Eles falham ainda em ver a essência do problema cultural, pois a liberdade daqueles teóricos em que se inspiram foi acidental; basicamente humanista, o estatismo é da essência da dialética humanista, tanto quanto o próprio libertarianismo. Ademais, o libertarianismo reflete uma espécie de nominalismo político e termina por absolutizar a lei econômica, destruindo a autonomia das outras esferas da realidade - algo que os aproxima dos marxistas, a propósito.

Finalmente, o libertário falha em perceber que a liberdade e a riqueza ocidentais não são dados da natureza, mas frutos de uma construção histórica do cristianismo. Ela demorou para ser construída.

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De uma perspectiva dooyeweerdiana:


"A realidade rapidamente foi reduzida a uma instituição ou disciplina particular da qual os homens eram os governadores e intérpretes. A mesma falácia marcou a economia, onde muitos advogados do livre mercado sob a influência da filosofia imanentista tomaram esta única esfera de lei e absolutizaram-na como a única lei. Nós concordamos com a economia clássica como economia, mas não como uma filosofia religiosa. Quando ela converte-se em uma filosofia religiosa imanentista, ela nega a validade de qualquer lei transcendente de Deus e de quaisquer outras instituições e ordens da vida a menos que estas passem pelo teste do livre mercado. A economia de livre mercado (...) torna-se idolatria. (...) Qualquer outro valor derivado de qualquer outra esfera, de Deus, precisa competir sobre uma base do livre mercado, é dito. Isto é apenas afirmar que o livre mercado é um deus, e que ele é absoluto e valor único no universo. (...) Os marxistas, não menos que outros totalitários, abusam de uma ou duas "verdades" parciais, que eles usam pra excluir toda verdade e Deus, e o mesmo é verdade daqueles que reduzem o mundo à matéria. Os religiosos do livre mercado são grandes inimigos do livre mercado, na medida em que eles transformam um instrumento de liberdade em uma forma de totalitarismo. Não é surpreendente que muitos religiosos do livre mercado recentemente foram muito convenientes para a Nova Esquerda; ambos se parecem em seu totalitarismo estridente."
- R. J. Rushdoony

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