quarta-feira, 7 de junho de 2017

UM COMPROMISSO COM A IRRELEVÂNCIA CULTURAL


R. J. Rushdoony não hesitou em esclarecer a inevitável relação entre escatologia e ética. Ele percebeu que as doutrinas dos puritanos, unindo pós-milenismo e pactualismo (até 1860), a despeito dos eventuais equívocos e fantasias que permearam suas interpretações, moveu-os com um espírito de liderança e ação, e com esperança para o futuro. Aquele espírito tornou-se parte da identidade americana. Em contraste, as escatologias pessimistas têm servido para transformar a igreja de Cristo em uma espécie de "convento dentro do mundo", um local de escape e terapia espiritual, sem qualquer influência na sociedade. A ascensão do pessimismo escatológico e do pietismo evangélico, especialmente depois do Segundo Grande Avivamento, coincidiu historicamente com a crescente perda de confessionalidade das escolas cristãs naquele país em favor das escolas públicas, idealizadas pelo humanismo religioso e em especial pelos unitaristas. Trata-se de uma derrota apriorística. Escrevendo sobre a diferença entre a escatologia inicial do puritanismo e o pré-milenismo, George Shepperson, um estudioso não-cristão, disse que "o pré-milenismo sempre significa uma profunda desconfiança das forças ortodoxas na reforma aberta na sociedade". [Citado por Rushdoony em "O Plano de Deus para a Vitória".] Ora, por que reformar um mundo condenado à degeneração implacável? O dispensacionalismo, em especial, acabaria por criar uma tendência para entender-se a religião de forma evolucionista, com uma ética mutável.
O dispensacionalismo tem sido uma fonte de fraqueza para a igreja de Cristo, que tem não apenas nos levado à derrota política e cultural, mas que tem nos impedido sequer de lutar. Curioso é notar que um segmento do pentecostalismo brasileiro, embora seja nominalmente pré-milenista, é pós-milenista de fato. O triunfalismo pentecostal tem servido para equilibrar a tendência escapista e conformista do dispensacionalismo e, para aqueles que acompanham o que não sai necessariamente na grande mídia mais de perto, tem tido alguns resultados. O pentecostalismo brasileiro, sim, tem sido inconsistente nesse ponto. E isso pode ter um lado bom. 

Essa é a primeira aparição de Gary North neste blog. Soli Deo Gloria.

UM COMPROMISSO COM A IRRELEVÂNCIA CULTURAL


por Gary North

“Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor meu Deus; para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar. Guardai-os pois, e cumpri-os, porque isso será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida”. (Deuteronômio 4.5-6).


Deus disse a Moisés que a obediência de Israel às leis de Deus seria um testemunho para as nações. A nação de Israel se tornaria um farol para o mundo. Existe uma conexão inquebrável entre a obediência nacional e o evangelismo mundial. Jesus apelou para essa mesma idéia quando descreveu a Igreja como uma cidade em uma colina (Mateus 5.14). Mas essa conexão entre a obediência institucional, as bênçãos institucionais de Deus e o evangelismo mundial é negada pelos dispensacionalistas. “Isso foi para Israel, não para a Igreja”. Mas e as palavras de Jesus sobre a cidade em uma colina? “Isso foi antes da crucificação. Isso também era para Israel: o reino dos céus, não o reino de Deus. Isso não era para a Igreja”. Então, o que é para a Igreja, eticamente falando? Eles nunca dizem. Em mais de 160 anos, nenhum autor dispensacionalista publicou um livro sobre os detalhes da ética social do Novo Testamento.

O resultado, nas palavras do autor dispensacionalista Tommy Ice, é que “os pré-milenaristas sempre estiveram envolvidos no mundo presente. E, basicamente, eles pegaram as posições éticas de seus contemporâneos”.[1] A pergunta é: Quão confiáveis são as posições éticas de seus contemporâneos?


[1] Debate entre Dave Hunt e Tommy Ice vs. Gary DeMar e Gary North. Citado por DeMar, The Debate Over Christian Reconstruction (Ft. Worth, Texas: Dominion Press, 1988), p. 185.

Gary North, "Rapture Fever: Why Dispensationalism is Paralyzed?". Cap. 5, pág. 91-92.

Traduzido por Chico Neto.