segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O ABORTO COMO CULTO RELIGIOSO




Quais forças culturais impulsionam o aborto?


Eu acredito que a resposta, como ainda mostra Rushdoony, no Marquês de Sade e, mais recentemente, em sua filha revolucionária, a Revolução Sexual. O homem moderno impôs um antagonismo entre os desejos sexuais "naturais" e a moralidade cristã. Uma vez que a ideia de "pecado" é retirada da sociedade, uma vez que o Pecado Original é esquecido, os desejos sexuais tornam-se "naturais", desprovidos de julgamento. Quem é o Deus cristão senão um opressor, um alienígena a podar os desejos e a satisfação desses desejos? Afinal, não são os desejos homossexuais "naturais"? Vejam, animais também têm homossexualismo. E incesto. E outras coisas. O humanista ainda tem pudor para levar sua cosmovisão até as últimas consequências; mas tem cada vez menos.


Nancy Pearcey, em A Verdade Absoluta, diagnostica uma cosmovisão da liberalização sexual. Corretamente entendido, podemos ver nesse diagnóstico uma verdadeira religião sexual, quase gnóstica. Nessa religião, a causa do sofrimento das mulheres são as regras morais sexuais. A liberdade, portanto, a felicidade, passa pela abolição dessa imposição.


O igualitarismo radical, uma febre humanista, parte do lema da Revolução Francesa, é uma forma de abstracionismo. No cristianismo, somos iguais perante Deus apenas em um aspecto: somos igualmente pecadores. Reis, aristocratas, plebeus, ricos e pobres, somos todos igualmente pecadores. Na realidade, porém, no mundo "concreto" não somos iguais.


Rushdoony ainda entende que essa tendência abstrativa é quase um ideal matemático. Dizemos que dois ingleses são absolutamente iguais a dois índios praticantes de infanticídio e/ou canibalismo. Realmente são? Educação, história e herança civilizacional não fazem diferença? A resposta saudável deveria ser: depende do sentido. Quando um cristão vai casar-se, ele considera todos os possíveis cônjuges como iguais? Ou consideramos a vida de comunhão do pretendente, se trata-se de uma pessoa responsável e preparada para o matrimônio? Ambos ingleses e índios são Imagem e Semelhança de Deus. Ambos foram criados por Deus. Não obstante, há muitas diferenças que a mente pós-moderna tende a relativizar. A razão para a relativização é a saudável luta contra o racismo, a ideia de superioridade de uma raça contra a outra. Mas trata-se de uma resposta equivocada ao problema, pois a pós-modernidade não procura igualdade na Imago Dei, mas na abstração matemática. Homens e mulheres não são absolutamente iguais. E nunca serão.


Esse igualitarismo reflete-se nas relações de gênero, bem como nas relações entre povos. Por que o homem e a mulher são diferentes? O marxismo soube captar convenientemente esse tema. Entenderam os socialistas que o casamento era uma instituição que impedia a igualdade entre homens e mulheres, por causa das responsabilidades de ambos. E uma das razões para essa não-igualdade é a maternidade em si.


Mesmo antes do marxismo, seitas cristãs heréticas que sobreviviam nos esgotos durante a era puritana e durante as revoluções camponesas na Alemanha já perceberam essa verdade: a maternidade é algo que torna a mulher diferente do homem. A igualdade entre os sexos nunca poderia ser conseguida sem que a maternidade não fosse controlada - ou até abolida. Os anticoncepcionais e preservativos surgiram como arma poderosa para esse ideal.


Uma mulher não poderia ser sexualmente livre se não puder livrar-se da inconveniência da maternidade. "Liberdade e Igualdade", mas conceitos ateístas de liberdade e igualdade. Para os cristãos, liberdade é liberdade para fazer o bem. Nossos pecados são nossa escravidão, nosso mal, nossa herança do Pecado Original, do qual precisamos ser libertados. Somos iguais por causa da nossa Imago Dei.

Para o alcance dessa liberdade irrealista, abstrata, o aborto assume uma significância central. É uma bandeira do feminismo e o comportamento das feministas atesta isso.

Os cristãos reúnem-se para celebrar o nascimento de Cristo no natal. As feministas reúnem-se para celebrar como "vitória" o aborto de um bebê na barriga de uma criança. Elas celebram o horror, a tragédia daquela vida, como a oportunidade para sua "libertação" gnóstica. A liberdade gnóstica contra a feminilidade, contra a moral, contra Deus e contra a natureza, o mundo real. Elas festejam diante de um horror, uma feiura de descrição inexaurível uma aberração do pecado. 

No culto cristão, todos os domingos, os cristãos reúnem-se para a Santa Ceia. Deus sacrificou-se para livrar-nos dos nossos pecados. E a situação com a qual nos deparamos é mais parecida do que parece. Cristo morreu para livrar-nos da condenação do pecado, da culpa. E as feministas matam seus bebês para matarem também a culpa. Elas sacrificam os bebês como um ritual para celebrar a própria divindade, para abolirem o bem e o mal; e sem o bem e o mal, não há culpa. Elas agora são deusas, repetindo o Éden; e não há lei acima delas. Elas são livres de Deus.

Elas matam a maternidade e, com ela, a feminilidade. Elas matam o propósito criacional, a Criação e seu Criador.

O feminismo é uma religião. Aborto é seu culto.