sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

RUSHDOONY E OLAVO DE CARVALHO: É possível comparar?


 RUSHDOONY E OLAVO DE CARVALHO: É possível comparar?


Na verdade, sim. Talvez um leitor de Rushdoony sinta-se ofendido por minha afirmação, mas tentarei demonstrar que a comparação não é descabida.


Como afirmei antes, estou convicto de que Rousas J. Rushdoony é superior a Olavo de Carvalho. Não afirmo isso levianamente, ou tendenciosamente, por Rush ser calvinista (embora, por ser calvinista, ele já estivesse automaticamente mais correto).


Muitos dos temas, e inclusive autores, nos quais Olavo trabalhou, Rushdoony também trabalhou, com décadas de antecedência. Ambos falaram de filosofia da história; interpretação da história do pensamento; interpretação da história do Ocidente com foco na modernidade; ciência política; revolução; sociologia; etc.



Sabe essa bibliografia que Olavo de Carvalho trouxe ao Brasil? Rushdoony já discutia há várias décadas atrás. Russel Kirk, Edmund Burke, Mises, Eric Voegelin, Christopher Dawson, Gertrude Himmelfarb, Christopher Heer, e muitos outros - para falar dos mais banais. Os únicos autores que o professor da Virgínia trouxe ao Brasil que eram desconhecidos por Rousas não são os mais contemporâneos, como Louis Lavelle e René Girard. 


A erudição de Rousas, porém, era maior. A lista de autores com os quais ele trabalhou é muito maior. E eu não desejo com isso alimentar desprezo por de Carvalho. Ele teve méritos e estava acima, muito acima, da média brasileira.



Rushdoony dizia-se "pupilo" de Eugen Rosenstock-Huessy, com quem chegou até a trocar cartas. Olavo baseava-se explicitamente em Eric Voegelin. O brasileiro tinha consciência de que esses dois autores, Rosenstock-Huessy e Voegelin, em alguma medida, eram incompatíveis. Se um estava certo em sua visão panorâmica, o outro estava errado. E ambos os autores alemães tinham a mesma angústia em suas almas: entender como o mundo ocidental pôde degenerar nas duas Guerras Mundiais.


Olavo conhecia alguma coisa de Rosenstock-Huessy - não sei até onde. Ele trabalhou pessoalmente na edição brasileira do livro, "A Origem da Linguagem". A discordância entre este autor e o escolhido pelo brasileiro, contudo, se torna mais grave em outro livro, "Out of Revolution". 


Rosenstock-Huessy era um erudito. Quando foi para os EUA, a universidade que o recebeu simplesmente não sabia o que fazer com ele. Seu trabalho envolveu filosofia da linguagem, sociologia, teologia e história. Onde ele trabalharia? Considero-o como o maior dentre os intelectuais influenciados por Karl Barth naquela época. Voegelin também foi influenciado por Barth, embora, do meu ponto de vista, com muito menos maestria. Enquanto o primeiro defendia a ideia de uma visão de futuro cristã como fundamental para o Ocidente, o último era avesso a qualquer interpretação que não fosse meramente existencialista (ou uma mistura de cristianismo e existencialismo) da história. Em outras palavras, a escatologia de ambos era diferente. Rushdoony criticou explicitamente Eric Voegelin. A escatologia da qual Rosenstock-Huessy e seu pupilo se aproximavam era condenada por Voegelin, ao menos aparentemente*. [Escatologia é importante para filosofia da história.]


Anos atrás, Olavo fez uma declaração dizendo que o primeiro revolucionário foi o papa, creio que durante uma apresentação em vídeo. Me pergunto se, neste caso, não testemunhamos uma reavaliação dos textos de Huessy pelo professor, pois Eugen considerou a Reforma Papal de Hildebrando como a primeira de todas as revoluções ocidentais, pela qual todas as outras são mais adequadamente interpretadas. Não posso afirmar com certeza. se houve essa reavaliação. Provavelmente não. Talvez tenha sido apenas um reconhecimento de alguns insights de Rosenstock-Huessy. Ou talvez a declaração do professor da Virgínia não tivesse nada a ver com este autor de forma alguma. Apenas especulo.


Infelizmente, por causa do Olavo, como mérito e demérito ao mesmo tempo, fomos bombardeados pelo pensamento de Voegelin, que é finalmente incompatível com o cristianismo legítimo. Rushdoony está chegando. E, dizem as boas línguas, Rosenstock-Huessy também.

Antônio Vitor.

[Nota: *Voegelin tendia a dividir a escatologia em amilenismo e milenarismo(s), sem distinguir entre pré-milenismo e pós-milenismo. A divisão de Voegelin parece ser uma tendência mais influenciada por autores católicos. São os reformados e evangelicais que tendem a dar uma nuance maior entre pós e pré-milenismo. Penso que a visão mais condizente com a "secularização escatológica" denunciada por Voegelin se identifique mais corretamente como uma forma de "pré-milenismo" deformado, enquanto Rushdoony e Rosenstock-Huessy estivessem mais próximos do "pós-milenismo".]