segunda-feira, 28 de maio de 2018

SEPARAÇÃO ENTRE LEIS E RELIGIÃO

Para Rushdoony, a separação entre leis e religião levou à destruição das duas. A religião fugiu do mundo e entregou-se a uma ética pietista, ao mundo espiritual, sem qualquer influência na vida "prática". As leis perderam qualquer conexão com a moralidade, tornando-se mera "construção", "tradição vazia", resquícios de um passado injustificado e finalmente a “vontade da maioria” ou de um estado soberano, pelos quais o aborto, a zoofilia (legalizada na Alemanha) e quaisquer outras práticas podem ser admitidas. A recente legalização do aborto na Irlanda por mera votação mostra a natureza do problema. Se Deus não é o soberano sobre as leis, a maioria pode decidir amanhã que roubar não é mais crime. E, de fato, o socialismo é isto.


segunda-feira, 14 de maio de 2018

DEUS, SIGNIFICADO E OS ASPECTOS DA REALIDADE

Desprezar a autoridade de Deus e sua Palavra sobre algum aspecto da realidade é condenar esse aspecto à ausência de significado e finalmente deixá-lo ser ocupado com algo criado pela imaginação humana. É Deus quem dá significado e propósito a tudo o que é criado. Rejeitar uma autoridade cristã nas ciências, no mundo acadêmico ou na esfera jurídica é apartar Deus da verdade e da realidade, pois aquelas são áreas que lidam com a prática. O resultado será o relativismo ou alguma outra forma de distorção. Negar a lei de Deus (ou, para usar o termo neocalvinista mais abrangente, "negar a Palavra-Lei") e as implicações dela para a vida pública é negar a infalibilidade em última instância. A igreja resume-se à tarefa da "salvação pessoal".

[Sobre Dooyeweerd e Van Til.]

domingo, 13 de maio de 2018

A TEOLOGIA DOS REVOLUCIONÁRIOS

A teologia é inescapável. Conceitos como soberania, liberdade e absoluto são inescapáveis. Mesmo que alguns defendam completamente a divisão entre religião e política, eles apenas substituem os atributos transcendentes de Deus para elementos da própria Criação, seja o próprio homem, seja a natureza. Como Paulo explicou em Romanos 1, o homem nega a divindade de Deus e adora a criatura em seu lugar. O que temos não é política sem teologia, mas políticas baseadas em teologias diferentes, que disfarçam a si mesmas.

Quando Deus foi expulso do mundo moderno, Hegel enxergou a única possível encarnação da divindade no estado. Para Rousseau, a encarnação estava na 'vontade geral'. Com Marx, a encarnação da divindade passou para o ativismo revolucionário. No fim das contas, a ditadura do proletariado seria infalível. A única transcendência possível é o futuro. "Seremos julgados pelos homens do futuro", eles diziam desde os tempos do terrorismo romântico na Rússia. Assim como os cristãos creem no decreto de Deus e na ação de sua Graça para o estabelecimento de seu Reino, o esquerdista vê sua práxis religiosa no ativismo revolucionário a fim de trazer a encarnação da divindade no Reino do Humanismo. Por isso, como Rushdoony explicou, as discussões que ocorreram entre os membros da ex-URSS em torno da possibilidade de Stalin ter (ou não) cometido erros não eram meras discussões políticas, mas discussões teológicas. A ditadura do proletariado não poderia falhar. Com atenção, Albert Camus relacionou corretamente o niilismo e o terrorismo de estado. Rejeitar a autoridade de Deus sobre a política e a história, incluindo a pressuposição de seu decreto infalível, conduz inevitavelmente ao presente estado de coisas.

A RESPONSABILIDADE É SUA - RECOMENDAÇÕES

Você já parou para pensar no porquê de Deus ter se agradado de Salomão?

"E em Gibeom apareceu o Senhor a Salomão de noite em sonhos; e disse-lhe Deus: Pede o que queres que eu te dê. 

E disse Salomão: De grande beneficência usaste tu com teu servo Davi, meu pai, como também ele andou contigo em verdade, e em justiça, e em retidão de coração, perante a tua face; e guardaste-lhe esta grande beneficência, e lhe deste um filho que se assentasse no seu trono, como se vê neste dia. 

Agora, pois, ó Senhor meu Deus, tu fizeste reinar a teu servo em lugar de Davi meu pai; e sou apenas um menino pequeno; não sei como sair, nem como entrar. 

E teu servo está no meio do teu povo que elegeste; povo grande, que nem se pode contar, nem numerar, pela sua multidão. 

A teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque quem poderia julgar a este teu tão grande povo? 

E esta palavra pareceu boa aos olhos do Senhor, de que Salomão pedisse isso. 

E disse-lhe Deus: Porquanto pediste isso, e não pediste para ti muitos dias, nem pediste para ti riquezas, nem pediste a vida de teus inimigos; mas pediste para ti entendimento, para discernires o que é justo

Eis que fiz segundo as tuas palavras; eis que te dei um coração tão sábio e entendido, que antes de ti igual não houve, e depois de ti igual não se levantará. 

E também até o que não pediste te dei, assim riquezas como glória; de modo que não haverá um igual entre os reis, por todos os teus dias. 

E, se andares nos meus caminhos, guardando os meus estatutos, e os meus mandamentos, como andou Davi teu pai, também prolongarei os teus dias."

[1 Reis 3:5-14]

Salomão pediu sabedoria a Deus. Você já orou por sabedoria?

Existe uma crise intelectual muito séria nas igrejas evangélicas brasileiras. Saiba que esta crise é responsabilidade sua também. Não culpe os pastores. Você é membro da igreja. A sabedoria e o conhecimento são parte do Mandato Cultural que Deus deu ao ser humano. Saiba que muitas vezes as editoras deixam de publicar livros robustos sobre determinados temas porque elas simplesmente não vendem. Os pastores deixam de aprofundar determinados assuntos porque acreditam que os membros não entenderão. Os membros das igrejas brasileiras parecem preocupados somente com o "leitinho espiritual". E digo com convicção que os membros de igrejas tradicionais têm muito menos desculpas para a letargia intelectual do que os membros de igrejas pentecostais e neopentecostais.

Não só há uma ocupação de futilidades, mas um problema educacional mais crônico. A educação brasileira está entre as piores do mundo! Você pode estar pensando: "é culpa do governo!" Mas lembre que a educação na Europa e nos Estados Unidos foi incentivada pela religião! Você, como cristão, tem obrigação de buscar e de construir entendimento e conhecimento! Saiba que as grandes universidades do mundo foram fundadas por pastores e seminários! A educação estatal é o assalto humanista à educação. A educação estatal é parte do problema.

Há um grande impedimento ao homeschooling no Brasil, porque muitas vezes nem mesmo os pais tiveram um preparo intelectual adequado. Mas se você está lendo este blog significa que você tem recursos suficientes para buscar melhorar seu conhecimento. Entender os métodos de educação, investir em lógica, retórica, interpretação de texto e, principalmente, gramática, são possibilidades acessíveis a qualquer um que se esforce para isso. Já prestou atenção em quão mal escrevem as pessoas das igrejas brasileiras? Se mal dominamos a nossa própria língua, como esperamos poder interpretar a Escritura, com traduções que muitas vezes requerem o conhecimento de vários idiomas?

Se não entendemos filosofia e história, como podemos aplicar pressupostos corretos para a interpretação? Como podemos defender nossa fé diante dos ataques ideológicos e filosóficos tão cruéis contra a fé cristã? Como evangelizar?

Isto também é responsabilidade sua. E quanto mais você investir nisto, mais ganhos terá, tanto pessoalmente quanto ganharão todos aqueles próximos de você.



Eventualmente aparecem jovens me pedindo indicações de leitura, ou até mesmo um cronograma de estudos. Em primeiro lugar, conheça sua própria fé. Leia As Institutas de João Calvino. Entenda o que a Reforma realmente ensinou. Há muitos ensinos na igreja brasileira que não refletem e nem honram o que a Reforma Protestante realmente ensinou. E, por favor, as 95 Teses de Lutero andam longe de explicar tudo o que você precisa saber! Nem mesmo conhecer os 5 Pontos do Calvinismo. Se você não entende nem a sua fé, que julga ser tão importante para a salvação da sua alma, por que você acha que tem a prioridade de entender assuntos como filosofia e política? Quer salvar a "cultura ocidental"? Ora, deixe-me dar um spoiler do que você encontrará neste blog: sem Cristo, não há "salvação" para o Ocidente. Parte do meu esforço aqui é demonstrar que sem Cristo é impossível haver conhecimento, filosofia, história, ordem pública, leis e autoridade. Portanto, sem Cristo, não há civilização realmente justa, ordenada e saudável possível. A crise cultural do Ocidente começou com o abandono da religião.

Depois de conhecer bem sua fé, eu recomendo que você entenda o que é cosmovisão. A cosmovisão, em si, é um conceito filosófico que foi desenvolvido com o tempo. Didaticamente, do meu ponto de vista, ele não é o ponto inicial para a compreensão da filosofia, mas é o escudo que o protegerá da grande confusão do pensamento teórico ocidental, impregnado de anti-cristianismo.

Há alguns autores já publicados no Brasil que são, se não exaustivos, pelo menos eficazes para dar ao cristão brasileiro toda a defesa intelectual de que precisa, e o norte pelo qual navegar em assuntos intelectuais. Não existe uma fórmula infalível que sirva como guia. E nem eu sou especialista em qualquer coisa. Sou apenas um esforçado autodidata, que lida com as dificuldades de quem busca a própria educação e com os próprios limites. Não espere perfeição de mim e nem que eu ofereça a lista mais perfeita do mundo. Em parte, eu apenas estou oferecendo as pistas e os autores que serviram na minha própria caminhada - se é que interessam a você. E alguns deles são de muito fácil leitura. Os que considero mais básicos são:

1. Francis Schaeffer.
2. Nancy Pearcey.
3. Gordon Clark.
4. Cornelius Van Til.
5. Herman Dooyeweerd.
6. R. J. Rushdoony.
7. Abraham Kuyper.

Compreendendo bem estes autores, penso eu, qualquer cristão pode navegar sem medo nos mais variados temas sem perder-se. Comece por Schaeffer e Pearcey; vá para Van Til e Clark depois. E só depois siga para Dooyeweerd, Kuyper e Rushdoony. Neste ponto, depois de resguardado, procure os melhores intérpretes de cada pensador, em obras secundárias, mas jamais deixando de ir para as fontes primárias. As fontes secundárias servem para ajudar a entender as fontes primárias. Você chegará nos grandes pensadores cristãos como Agostinho (se decidir não começar com ele). 
Assim você poderá estudar os filósofos gregos para conhecer os primórdios do debate. Lerá os filósofos modernos como quem disseca cadáveres putrefatos. Meu amigo Fabrício Tavares sempre reitera o papel fundamental da Literatura. Procure ler os clássicos. Entenda o valor de Shakespeare, Dostoiévski, John Milton e tantos outros. Acha que poesia é fútil? A Bíblia tem livros poéticos.

"Ah, irmão Vitor, mas é muito difícil e eu não consigo!" E quem disse que seria fácil? Você conhece alguma coisa fácil na vida? Este é o segundo spoiler: é muito difícil e você vai demorar mais de um ano para começar a entender. Por isso, não desista! Faça como Salomão e ore a Deus: "Senhor, ajuda-me a entender!" "Senhor, ajuda-me a glorificar o teu nome nestes temas tão importantes!" O esforço traz recompensas. E muitas pessoas dependem disso. O Reino de Deus depende disso. Faça isso para a Glória de Deus.

Nesta empreitada, procure entender algumas coisas importantes que estão totalmente interligadas:

1. A crítica à neutralidade da razão.
2. Os efeitos noéticos do pecado, segundo a interpretação reformada - em contraste com as demais.
3. Aprenda o que são epistemologia e metafísica!
4. Entenda os problemas da "razão autônoma" e como ela destrói a cosmovisão, prejudicando a igreja.
5. Pressupostos e interpretação.

6. As diferenças entre os pensamentos calvinista, luterano, arminiano, tomista, etc., inclusive nos temas supracitados, como metafísica.

Não desista até entender exatamente o que são todas estas coisas. Até aqui, você não estará plenamente consciente de como se guiar diante de tantas interpretações da ética, da história, da filosofia, da psicologia, da ciência, da sociologia e até da própria teologia! Leve o tempo que precisar. Eu tenho me dedicado há anos. Dedique-se, mas sem deixar que seu interesse por tais assuntos prejudiquem sua vida espiritual. Deus e sua Palavra são soberanos. Mantenha a Sola Scriptura em mente. Lendo meu blog, você entenderá que a Sola Scriptura é muito mais do que um mero conceito para o estudo de teologia.

Que Deus abençoe sua vida.

NOTA: Eu sou um zero à esquerda intelectualmente. Mas sou esforçado. Se há quem se interesse eventualmente pelos autores que eu leio e indico, aqui eu dou minha resposta. Mas tenha certeza de uma coisa: verdadeiros intelectuais são outros, nos quais me apoio. Sou só um aprendiz.

AGENDA DE ESQUERDA: FORÇANDO DILEMAS

Uma das artimanhas da Nova Esquerda nas questões LGBT é forçar dilemas. Como assim? 

Exemplo: "Existem muitas crianças órfãs, que nunca terão pais nem oportunidade de estudar em melhores escolas. Você prefere que elas fiquem assim do que sejam adotadas por dois homens?"

O objetivo é jogar a ética cristã que ensina o auxílio ao necessitado contra a própria moral cristã sobre o casamento e a família. É uma luta entre uma "graça" barata e a "lei". Entre "ordem" e "liberdade". É um problema que a maioria das pessoas têm dificuldade para resolver na própria cabeça. O esquerdismo força uma "graça" barata, força uma "liberdade" abstrata, contra qualquer princípio de lei e ordem. É antinomia. Apela a um sentimentalismo moderno. Pastores que enfrentam esse conflito particular (entre lei e graça) já têm sérios problemas, para começar. 

REFLEXÕES SOBRE RUSSELL KIRK E CONSERVADORISMO

"Democracia dos mortos" é mais um jeito de retirar Deus da base da ordem civil. Russell Kirk ["A Política da Prudência"] fala, ecoando Burke, sobre o Pacto entre Deus e os homens, mas em nenhum momento o temor do Senhor é tomado como algo relevante para a política e não há uma visão ortodoxa deste Pacto; a coincidência de interesses entre cristianismo e conservadorismo é fruto do apelo conservador ao consenso cristão do passado. Kirk nega, mas parece plausível que o conservadorismo, qualquer que seja sua definição, tem raízes no ceticismo de Hume - que é precisamente a opinião defendida pelo Pondé. O empirismo é a base do conservadorismo? Meus olhos saltaram ao ler o americano dizer que "é improvável que tenhamos novas descobertas no campo moral", criticando o rompimento da tradição por parte da esquerda. Hã?! Moral se descobre pela experiência de alguma forma? Quero crer que ele não quis dizer isso e que eu interpretei equivocadamente. Se for este o caso, corrijam-me, por favor. (Mas não digam que a resposta está clara na obra, porque não está.)

O conservadorismo, afirma o autor, tem princípios; não dogmas (?). A Escritura, nas palavras do próprio Kirk, não é muito além de um relato de um conjunto de meras "experiências espirituais"[SIC].

Entre os conservadores, para ele, temos desde pagãos romanos até unitaristas ingleses e americanos. De capa a capa, a autoridade de Deus é negligenciada. A razão humana continua juíza. Kirk denuncia (corretamente) os pontos em comum entre libertarianismo e esquerdismo apenas para, no momento seguinte, trair-se a si mesmo defendendo um ponto de contato entre sua visão de estado e a visão de estado da esquerda, ambas como reflexo tardio da visão de Aristóteles, recauchutada por Tomás de Aquino. A única alternativa genuína para ambos é a visão cristã reformada *madura* de estado (porque nós também erramos neste ponto no passado). Parece óbvio que tudo aquilo que poderia trazer Cristo para o debate é substituído por uma visão anti-bíblica de lei natural. A substituição da religião pela lei natural foi um dos primeiros passos de imanência e de desvalorização da religião para a vida pública e para a secularização. Para um grupo que se diz avesso ao secularismo, uma menção "conservadora" ao cristianismo não passa de uma emoção esteticamente refinada, mas sem muita autoridade real. 


Ao mesmo tempo, é evidente que há uma visão distinta entre a noção de Pecado Original na tradição agostiniano-reformada e a visão conservadora. Em "A Política da Prudência", Russell Kirk diz que os seres humanos são sempre imperfeitos, e que, ao contrário da visão esquerdista, podem ser bons ou maus. Parece contraproducente tentar extrair grandes conclusões desta única frase, mas, como observa John Robbins (famoso clarkeano, mas com quem eu também não tenho muita concordância), o conservadorismo é epistemologicamente diferente do pensamento reformado, donde podemos desenvolver severas críticas à relação entre a antropologia de Kirk e a antropologia reformada, certamente superior - como admitiu a contragosto Erik von Kuehnelt-Leddihn, um católico romano. É necessário, para o seguidor de R.K., pressupor uma metafísica diferente da metafísica calvinista, e esta é a fonte do intelectualismo do conservadorismo. E uma diferença entre intelectualismo e intelectualidade faz-se necessária. O cristianismo requer erudição como parte do mandato cultural de Deus, mas não é intelectualista.

A despeito da contribuição teórica de diversos protestantes, os atuais autores conservadores dão à razão humana (autônoma) um papel importante, parecendo ser uma atualização do tomismo. A diferença, porém, é a manutenção irracionalista de uma vaga transcendência, uma característica moderna, aliada ao perspectivismo histórico: não é a razão humana individual, mas aquela que olha para a pretensa sabedoria dos ancestrais. É a razão coletiva, a razão experimental. Não obstante, a suposta sabedoria dos ancestrais também precisa ser reconhecida através de um fator que não é evidente em si mesmo, que incluiria definições de bem e mal, que não podem ser extraídas da experiência, mesmo que seja a experiência de centenas de gerações durante milhares de anos. É neste contexto também que Robbins acusa o conservadorismo de "falácia naturalista". Ele chega à conclusão, semelhante à de muitos outros, de que o conservadorismo não responde às pequenas perguntas, como "qual é a punição justa para o tipo de crime x", e é muito pouco provável que ele consiga responder às grandes perguntas. 

O conservadorismo, como admite o próprio Russell Kirk, talvez não passe de um simples conjunto de sentimentos. Há princípios conservadores, compartilhados pelos diversos grupos que podem ser englobados dentro do termo, mas não há uma "teoria" ou "dogma" conservador. O conservadorismo é sempre relativo. E alguém é conservador em relação a quê? Alguns autores conservadores parecem marchar rumo ao relativismo e ao historicismo. O próprio Edmund Burke não aprovara a evangelização da Índia, porque o hinduísmo tinha um papel importante na ordem pública. Seria a manutenção da ordem mais importante do que a condenação de centenas de milhões de pessoas? Está claro, ainda, que o conservadorismo baseia-se em um misto de tradição-convenção-experiência-razão, ao invés da autoridade de Deus, o que nos leva a considerar o conservadorismo, em seu viés político, como uma forma de idolatria

Destarte, é claro que há muitas coisas boas para se aprender com autores conservadores. Me interessei por alguns daqueles livros e autores citados por Kirk. Mas devemos nos perguntar até onde o conservadorismo representa de fato o cristianismo. É vital que esta pergunta tenha uma resposta clara e verdadeira. Na verdade, dependendo do contexto, o conservadorismo pode voltar-se contra o Cristianismo.

O Cristianismo foi conservador dentro do Império Romano, questionando a base mais fundamental do Império, a divindade do Imperador? Teriam sido os apóstolos conservadores quando a estrutura social judaica, com fariseus, escribas e Sinédrio foram questionados? Conservadorismo e Cristianismo não se confundem. E se Deus e sua Palavra não estiverem sobre o Conservadorismo há apostasia.


******

Em "The Promises and Perils of Christian Politics", Russell Kirk afirma que a dogmática cristã é destinada a ordenar tão somente a alma, mas não a ordem civil. No máximo, afirma o autor, o cristianismo trabalha mentes e corações para o corpo político. Com o suporte de uma breve seleção de caricaturas de movimentos políticos sectários na história do cristianismo, o famoso conservador tenta alertar seus leitores dos desvarios oriundos das tentativas de aplicar o cristianismo à ordem civil. E o faz iniciando sua crítica com um ataque frontal ao escrito de um presbiteriano que afirmou simplesmente que o Cristianismo era fonte de renovo do mundo, o que incluiria a política. Citando o "Conselho Mundial de Igrejas", um órgão sabidamente infiltrado por comunistas, como denunciado pela CIA, Kirk chega à conclusão de que o cristianismo na política conduz à teologia da libertação e à justificação de outras figuras supostamente libertadoras dos pobres e oprimidos, como Mao e Pol-Pot. Ele despreza que a teologia da libertação tem uma série de pressupostos e interpretações equivocadas do cristianismo? 

A separação entre igreja e estado, à qual Kirk se refere no artigo, não implica que o cristianismo perde a sua função totalizante. (Sim, o cristianismo é totalizante, engula.) Quando Cristo disse que devemos "dar a Cesar o que é de César e a Deus o que é de Deus", Ele não quis dizer que Cesar não deve nada a Deus. Russell está certo ao dizer que a Igreja não é um instrumento para administração da justiça secular, da diplomacia ou da guerra. Não obstante, como argumenta Rushdoony, a noção de justiça pressupõe uma moral e a moral é derivada da religião. 

Se devemos, como os seguidores de Kirk, interpretar a diferença entre a Cidade dos Homens e a Cidade de Deus, de Agostinho de Hipona, como uma exclusão do cristianismo da vida pública, precisamos concordar, com Rushdoony, que o conservadorismo de Russell Kirk é simplesmente mais um neoplatonismo, onde Cristo é reduzido apenas a um salvador espiritual. Foi precisamente esse tipo de fé que enfraqueceu o cristianismo em todo o mundo. E é talvez o irmão gêmeo do liberalismo. Tanto o liberalismo quanto o conservadorismo tratam o cristianismo de forma "neutra" até determinado ponto. E tratar o cristianismo de forma neutra, amputando-o da cosmovisão e influência que ele requer, é uma forma discreta de anti-cristianismo.

******

O conservadorismo de Russell Kirk é também uma forma de humanismo cristão. Não é uma acusação; ele mesmo dizia que o humanismo cristão "enriqueceu o cristianismo". Kirk exaltava o humanismo cristão renascentista, de Erasmo de Roterdã e Pico della Mirandola, contra o humanismo secular. Foi exatamente este humanismo cristão que Erik von Kuehnelt-Leddihn viu corretamente como uma mudança séria na Idade Média, com terríveis implicações na modernidade em "The Western Dilemma", i.e., "a síntese entre Cristianismo e Antiguidade, pela qual o conceito medieval de mundo como um círculo com Deus como seu centro foi substituído pelo conceito de uma elipse com dois pontos focais - Deus e o homem." Foi no conflito entre Erasmo e Lutero que John Carroll viu o marco da batalha entre as duas forças antagônicas no Ocidente, o cristianismo e o humanismo. Foi em Pico della Mirandola que Carroll enxergou o início de um processo que culminou na Vontade de Poder de Nietzsche. O humanismo cristão não é uma solução paliativa; é um Cavalo de Troia.

******

Parte da devoção religiosa à democracia do século XX se deve ao desejo que o "Rei Demos", para citar positivamente Russell Kirk, de receber elogios. As massas querem ser elogiadas sobre a superioridade da democracia porque querem iludir-se de que governam melhor do que reis ou aristocratas. Não obstante, o pecado original afeta tanto os reis quanto o "povo". É um belo insight.

******

Crítica de Rushdoony a Russel Kirk (mas que vale um pouco para Edmund Burke):


"A alternativa à continuidade, costume e convenção não é o contrato social, mas o Cristianismo. E se os costumes, convenções e continuidade forem maus? 
Se Russel Kirk fosse radicalmente honesto com sua própria posição, ele teria que admitir que o Liberalismo tem costume, convenção e continuidade nesse lado do mundo moderno e nos Estados Unidos. Por que ele não é liberal? 
O fato é que Kirk não lida com o coração da questão. Os dez livros que ele lista são de importância moderada. Eles não são livros excelentes e eles não são livros pelos quais alguém que lê possa vir a lidar com as questões do nosso tempo. Pelo menos um dos livros seria uma má influência.
Incidentalmente, quase como um pensamento secundário ele cita o Cristianismo. Ele deixa claro, certamente, que qualquer um que determine sua posição em termos da Bíblia não é seu cup of tea. O tipo de Conservadorismo que Kirk representa é impotente. Ele não pode lidar com as questões do dia porque ele quer continuidade com o passado. Ele quer enfatizar costume e convenção, não fé. E este é o coração da questão. Paulo diz que o que não é de fé, é pecado. E qualquer Conservadotismo que constrói sobre o costume e a convenção, sobre a tradição, sobre a continuidade, é pecado. É tão ruim quanto o liberalismo, porque não é de Deus. Não tem como premissa a justiça fundamental. 
O que o Conservadorismo esposaria na Índia, na África? O que seria em relação ao canibalismo em algumas partes da África? E sobre a China (comunista)? ..."

AVISO AOS NAVEGANTES

Este é um blog despretensioso que decidi criar anos atrás para compartilhar meus estudos sobre temas atuais relevantes para a fé reformada. Este blog é confessional, reformado. Para sua completa compreensão, é necessário um conhecimento básico no pensamento de homens como Herman Dooyeweerd e Cornelius Van Til, e mais especialmente da crítica da "neutralidade da razão" de ambos. Seria útil conhecer também as Institutas da Religião Cristã de João Calvino. Aqui você encontrará muito Rushdoony, Van Til, Dooyeweerd, Schaeffer e outros autores. 

Nos últimos anos eu tenho investido mais em notas e pequenas reflexões, tiradas principalmente das aulas de Rushdoony, mas aqui você também encontrará ensaios e artigos de minha autoria, em constante diálogo com não-cristãos e intelectuais não-calvinistas. Erik von Kuehnelt-Leddihn, C. S. Lewis, Ernst Troeltsch, Christopher Dawson são alguns exemplos.

Quanto às notas, às vezes podem parecer pouco organizadas. Quanto às traduções, algumas nunca foram revisadas. Por estas razões eu peço desculpas, crendo ainda que serão úteis e compreensíveis. 


Que este trabalho humilde possa ser útil para a sua edificação, visitante.

E que Deus seja glorificado e nós diminuamos. Soli Deo Gloria.

"THE HOMEMADE WORLD"

O homem moderno tem o intuito cada vez mais consciente de criar um mundo de autoria exclusivamente humana, um mundo construído exclusivamente pelo homem. Malcolm Bradbury, por exemplo, um professor inglês, escreveu um livro chamado The Homemade World [trad.: "O mundo feito em casa"]. Seu desejo de glória humana é necessariamente uma luta contra toda a tradição cristã Ocidental, que deveria ser apagada, já que um mundo feito pelo homem não pode dividir espaço com uma visão de mundo que atribui sua obra a Deus. O americano Henry Miller escreveu os livros Trópico de Câncer e Trópico de Capricórnio, onde sugeriu que o mundo precisava de uma era de moderno assassínio, em que toda cultura, literatura e educação formal deveriam ser destruídas para que depois de 200 anos os povos pudessem reerguer-se da influência cristã e criar uma nova cultura. Parece megalomaníaco? Na verdade, algo parecido já foi feito pelas mãos dos comunistas. A Revolução Cultural promovida por Mao Tsé-Tung fez todo o possível para que os chineses modernos fossem incapazes de ler seus antepassados. Toda esta conversão ocidental está baseada na negação da transcendência. Agora somos ensinados que "o homem é apenas um animal que esqueceu que o é e nega-se a reconhecer isso." Toda a educação moderna, portanto, tem o objetivo de criar nossos filhos sob esta perspectiva e retirar qualquer visão cristã do mundo e da história. [Reflexão em uma aula de R. J. Rushdoony.]

PREDESTINAÇÃO: DIVINA OU ESTATAL?

Uma das duas motivações religiosas mais importantes na modernidade é a liberdade da personalidade humana.

Groen van Prinsterer identificou a causa das revoluções em um "conceito ateísta de liberdade". Herman Dooyeweerd, depois dele, entendeu que o motivo religioso básico do pensamento moderno é a luta dialética entre liberdade da personalidade e o conceito moderno de natureza.

Este pressuposto religioso de liberdade não resume-se apenas à esfera do ateísmo, mas pode ser visto semelhantemente no Deísmo e também em uma síntese de novas formas de Cristianismo. No Deísmo, Deus não interfere no mundo, e portanto, toda a responsabilidade está sobre as decisões livres dos homens. Muitos iluministas eram deístas.

Em formas sincréticas de Cristianismo, o homem absolutamente livre precisa ser livre no sentido em que Deus é livre. Contudo, a liberdade absoluta de Deus e do homem não podem coexistir. Neste sentido, eventualmente Deus precisa ser colocado na dependência da liberdade absoluta do homem; Deus apenas "responde à liberdade do homem". Como dizem tais evangelistas, "Deus quer salvar você, dê a Ele uma chance...". O destino, portanto, é colocado nas mãos do homem, não de Deus.

Nas três perspectivas, o homem transforma-se no "predestinador" de si mesmo e da sociedade. Uma vez negado o efeito da Queda no ser humano, a predestinação precisa assumir sua forma estatal, e o Estado controla todos os aspectos da vida humana, predestinando-os ao fim desejado.

O que dizem os marxistas, foucaultianos e tantos outros? Que Deus é uma invenção de grupos que usam-nO para controlar as massas, ou seja, um instrumento para um fim predestinado pelas "elites". Eles estão apenas seguindo os próprios pressupostos.

Tal liberdade está enraizada na filosofia grega, onde o rompimento com as religiões gregas tradicionais em busca da interpretação do universo a partir de uma forma especial de psicologia conduziu Platão, por exemplo, a imaginar um modelo de sociedade proto-comunista totalitária, com eugenia e ferrenho controle cultural e social. Cornelius van Til demonstra como no fim do Escolasticismo o resgate do pensamento grego introduziu modos anti-cristãos de pensamento, c
om o novo entendimento da razão autônoma e "neutra". Frei Josaphat, por exemplo, em seu livro "Tomás de Aquino e a Nova Era do Espírito", comenta brevemente sobre o erro de tradução das obras de Aristóteles que conduziram Tomás a entender a liberdade como ser "causa de si mesmo". 

No humanismo, ela já expressa-se na forma imperialista da Monarquia de Dante Alighieri. O Estado seria o responsável por conduzir a comunidade humana à "perfeição" segundo a razão natural e dentro de seu propósito "natural". Isto, é claro, já estava em Aristóteles. Muitos contribuíram para o desenvolvimento dessa visão, especialmente Marsílio de Pádua, que influenciou reis "protestantes" que tentaram dominar a Reforma Protestante. [Em outros textos eu explico como tal tentativa foi contrária à teologia dos reformadores, mais especialmente de João Calvino.]

No Iluminismo, ela ganha sua forma mais consistente, até o Estado divinizado. A predestinação, portanto, sai de Deus e entra no mundo, é "imanentizada" e assume sua forma mais terrível no Estado totalitário moderno. Como a vontade e a razão do homem caído tendem ao pecado, e o pecado é a escravidão ao Inimigo, a "liberdade do homem" [contra a predestinação de Deus] nada mais é do que a escravização completa do homem àquele que sujeitou a criação à vaidade. (Rm 8:20) E o Estado totalitário deve ser reconhecido simplesmente como o reino do mal.

[Reflexões em Andrew Sandlin e Rushdoony.]

MODERNIDADE, PECADO E MORTE

Mais um dos belos insights do Rushdoony que me enriqueceram há alguns anos foi a percepção da relação entre a defesa do pecado feita na modernidade e o conceito de liberdade no pensamento existencialista. Para o existencialista, o pecado é a expressão da liberdade, de um homem no universo em que "o céu está vazio". É algo como "peco, logo existo". Podemos muitas vezes ouvir não-cristãos dizerem coisas como "eu tenho desejos, estou vivo." O desejo pelo pecado, sua justificação, é vista como uma expressão de liberdade, de revolta contra a moral. Não coincidentemente, Sartre escreveu um livro onde tratou o criminoso degenerado e esquizofrênico Jean Genet como "santo Genet." A modernidade protege o pecador e o criminoso porque eles são sua expressão. Do Marquês de Sade às badernas universitárias; do Éden aos nossos dias, o pecado apoia-se em um conceito próprio de liberdade.

A fúria contra o mundo construído por Deus, como uma ânsia por liberdade, leva finalmente ao suicídio, pois escolher a hora da própria morte é uma forma de expressar a liberdade e o domínio de si mesmo. Não escolher a própria morte é não ser livre. Rushdoony também fala de um dos personagens de Dostoievski em "Os Possuídos", Kirilov, que busca o suicídio como uma forma de destruir o mundo criado por Deus, como o supremo ato de libertação.

E a Escritura diz: "Todos os que me odeiam amam a morte." [Provérbios 8:36]

O HOMEM ESTÁ MORTO!

Ironia é que depois de alguns séculos de soberba humanista e anti-cristã os próprios herdeiros da filosofia moderna tenham concluído que se "Deus está morto", o homem também está. Foucault reconheceu isto. É claro que ele não está defendendo o genocídio, mas explicando que o conceito humanista de homem - como centro próprio e organizador do conhecimento, livre e como essência no universo - também está morto, porque sem Deus não existe inteligibilidade do universo. Tal conceito foi também uma invenção. Na verdade, como vê-se na obra de Rushdoony, tal conceito é mais do que isso: faz parte de uma teologia; a teologia de uma religião que quer rivalizar com o Cristianismo. 

CONFLITO DE CLASSES OU HARMONIA DE INTERESSES?

O conflito não é entre ricos e pobres, entre capitalistas e trabalhadores, entre banqueiros e necessitados. Estas são falsas antíteses e nenhuma delas se retira da Escritura. Tal interpretação dialética da realidade é pagã.

A verdadeira antítese é entre os mantenedores do Pacto e os quebradores do Pacto. Em uma de suas aulas, Rushdoony cita a teoria da Harmonia de Interesses, do Mises, e mostra que ela corresponde mais à realidade que deve moldar a vida social do que aquelas ensinadas pela esquerda. Muitas igrejas cristãs, como se vê no Concílio Mundial de Igrejas (completamente infiltrado por marxistas desde o começo, como revelou a CIA décadas atrás), ou a Doutrina Social romanista, têm trabalhado em cima de uma interpretação dialética das relações sociais: existe um conflito de interesses (em vez de uma harmonia) entre o empregador e o trabalhador, razão pela qual este precisa ser protegido daquele.

A raiz deste preconceito está na Grécia, com a visão negativa de alguns filósofos contra os usurários. Esta visão infiltrou-se no cristianismo desde muito cedo, atravessando toda a Idade Média, passando pelas ordens mendicantes e renascendo na modernidade. O resultado é que atrapalha-se o funcionamento da esfera econômica [para entendermos isto melhor, é necessário conhecer o conceito de "Soberania das Esferas" de Kuyper e Dooyeweerd], justifica-se uma interferência estatal nas relações de trabalho, o que consequentemente trará infortúnios para todos.

Quantos ditos "conservadores brasileiros", por exemplo, questionam as leis trabalhistas no Brasil e defendem a Doutrina Social romanista ao mesmo tempo? Será que sabem que há influência da DS na Constituição de 88?

A esfera econômica deve ser soberana [veja "Soberania das Esferas" segundo Herman Dooyeweerd], o estado só pode interferir naquilo que Deus lhe ordenou interferir. A lei cristã, para Rushdoony, tem como uma das funções manter a sociedade funcionando com harmonia de interesses, evitando os conflitos. Abdicar deste padrão significa assumir uma visão pagã da realidade.

A INDISSOCIABILIDADE ENTRE EDUCAÇÃO E RELIGIÃO

"Se você quer conhecer a religião de qualquer sociedade, estude a sua educação." -- R. J. Rushdoony 

A educação paulofreireana não é tanto uma estratégia de subversão quanto apenas uma manifestação inevitável daquela religião (apóstata) particular. Como Rushdoony ensinou, toda educação é necessariamente religiosa. Cada religião tem o próprio conceito de conhecimento e de liberdade; todo conceito de liberdade é intrinsecamente religioso, conectando-se sempre à ideia de libertação contra algo que se considere mau. "Todo currículo escolar é um plano de salvação", diz Rushdoony. 

Os nativos [índios] americanos valorizavam a medicina e a cura espiritual. O que eles entendem por conhecimento visa libertá-los do mal dentro de sua cosmovisão. As artes liberais, i.e., a arte da liberdade, tem seu próprio currículo. A educação progressista também tem o seu, porque seu plano de salvação é outro, dentro de uma visão histórica dialética (mais especialmente da luta de classes, raças, sexo, etc.) rumo à encarnação final da paródia do absoluto no futuro. Volta-se contra o mal da opressão no presente estado de coisas. É claro, também, que toda ideologia é uma forma de religião secular. Feminismo, Black Liberation, e tantas outras ideologias, desenvolvem um currículo segundo suas premissas. 

Quando o estatismo na modernidade tornou-se uma religião, a escola prescindiu do ensino religioso, mas não do ensino cívico (na menos ruim das hipóteses, o religioso tornou-se um instrumento daquele propósito maior da nação), denunciando e confirmando a apostasia religiosa de um nacionalismo idólatra.

Não existe educação neutra. Educação "pluralista" também não é neutra. Ela forçará, mais cedo ou mais tarde, uma identidade a partir de uma síntese, um politeísmo, que no fim das contas serve para alimentar o estado, a entidade máxima capaz de conciliar os conflitos entre os diversos deuses. Um novo César.

KANT: O OPOSTO DA REFORMA



KANT: O OPOSTO DA REFORMA

Kant não só não pode ser considerado "o filósofo do protestantismo", como dizem muitos romanistas "conservadores", e como também o chamou o Pe. Paulo Ricardo (tão honesto sobre protestantismo quanto o Lula sobre qualquer assunto), como seu sistema deve ser considerado na verdade como o oposto do sistema das teologias luterana e reformada.

É o que explica Cornelius Van Til em "Pastor Reformado e o Pensamento Moderno". 

1. Para salvar a ciência, Kant diz que a nossa razão interpreta o mundo mediante a própria atividade lógica, mas fora dela só há um ambiente de contingência não-interpretado. Ele deve, por isso, rejeitar conceitos como providência, milagres e regeneração pelo Espírito Santo. 

2. Seria supostamente possível utilizar conceitos como graça, pecado, expiação, desde que estes conceitos não tivessem seu sentido tradicional. O sentido tradicional careceria de uma visão crítica da realidade, do conhecimento e da ética. A verdadeira religião "protestante" seria, para ele, fanática no ensino daqueles conceitos. Kant nega a autoridade da Escritura.

3. Para Kant, um ato moral só pode ser realizado em absoluta liberdade. Assim, Kant deve negar a Escritura quando ela diz que fomos criados bons. Nega a Criação conforme a Palavra de Deus. "O homem não será bom exceto em si mesmo e naquilo que estiver exclusivamente sob seu poder; o homem faz a si mesmo bom," conclui Van Til. 

4. O mesmo se aplica quanto à origem do mal. Uma visão 'moral' do mal, deve negar uma origem temporal, que tem lugar na esfera fenomenal, onde Deus não poderia entrar. A ideia de Deus ter "comando" do homem para fazer o que é bom e para evitar o mal é imoral por atacar a liberdade autônoma do homem. Kant nega tanto a ideia de pecado original quanto a doutrina da Graça de Deus.

5. Para o alemão, a verdadeira religião moral é aquela onde cada um tem, autonomamente, de fazer o máximo que estiver em seu poder para se tornar uma pessoa melhor. A ideia de que Deus pode nos ajudar a sermos melhores seria uma forma inferior de religião, onde há esforços para achar-se favor.

6. Na religião moral de Kant, a igreja seria transformada e teria como única obrigação desenvolver os deveres humanos, abdicando de qualquer 'sectarismo', chegando a negar necessariamente a visão de que Cristo veio ao mundo para salvar seu povo do pecado através de sua vida, morte e ressurreição.

7. A expiação de Cristo para ele seria inaceitável, pois seria inaceitável que alguém, por seu próprio mérito, tomasse o lugar de outrem. Se a expiação fosse aceita, seria "fantástico mistério".

8. A eleição também seria uma doutrina imoral, pois pressupõe que alguém seria salvo sem o próprio mérito, negando o que ele entenderia por justiça divina. Tudo deve ser reinterpretado segundo "as regras práticas da razão pura".

Kant não rejeita apenas o racionalismo e o empirismo, mas todas as doutrinas reformadas, e o Deus e o Cristo da Reforma. Kant rejeita a Sola Scriptura, a Sola Gratia, o Solus Christus, a Sola Fide e a Soli Deo Gloria. Se há luteranos que louvam-no, é porque, como disse Ernst Troeltsch, alguns protestantes, com o desejo de agradar os modernos, gostam de bajular-se a si mesmos. É muito mais provável que Lutero, que chamava a razão (autônoma) de "prostituta do diabo", endereçasse a Kant alguns dos piores xingamentos de seu arsenal. E com justiça.

sábado, 12 de maio de 2018

O FIM DE UMA ERA

O FIM DE UMA ERA

Grande parte dos alvos dos ataques da (Nova) esquerda na verdade não são aquilo que foi diretamente construído pelo Cristianismo, mas pelo próprio humanismo. Os protestos, as lutas e muitas guerras do fim do séc. XX são a modernidade devorando-se a si mesma.

Nietzsche inaugurou o ataque pessimista contra o narcisismo iluminado: a onipotência do homem foi substituída pela falta de sentido e pelo reconhecimento da fraqueza humana. Tal reconhecimento abriu espaço para a rejeição da indiferenciação da abstração iluminada e para a defesa do sujeito "excluído", vulnerável. O coletivismo e o individualismo duelam violentamente pelo reino humanista, sem possível solução.

Darwin atacou a superioridade do homem moderno, condenando-o como um mero animal. A própria razão humana, com ele, perde muito de seu vigor, por não passar de um fenômeno dentro de um processo.


Freud lançou desconfiança sobre tudo o que o homem pensa de si e revelou sua escravidão interna.

Os sonhos do progresso dos últimos séculos foram substituídos pelo apocalipse climático; o sonho de domínio da natureza pelo novo ideal de ciência deu lugar à "vingança" da natureza contra o homem.

O romantismo rebelou-se contra o racionalismo.

O abstrato da arte abandonou a linha reta.

A era humanista está no fim.

O desespero lançou as gerações do pós-guerra no misticismo, nas drogas, na fuga de uma realidade onde tudo o que foi construído não cumpriu o prometido e não pôde satisfazer as necessidades humanas.

Um novo início era requerido, ou a espera do fim.

O homem humanista só tem três opções:

(1) reconhecer a raiz do problema como sendo o conceito moderno de autonomia da personalidade humana e voltar pra Cristo;

(2) manter-se na confusão de sua própria dialética e seguir odiosamente rumo ao abismo da fragmentação; ou simplesmente

(3) sentar numa cadeira e escutar Pink Floyd (que eu sei apreciar, aliás) conformado e grunhindo ante o terror da realidade.

Ou talvez, ainda, fingir que não há nada de errado e esperar a morte chegar.

Basta apenas o sopro da boca de Cristo. Ele vencerá.

por Antonio Vitor.

Nota: quase tudo aqui é insight de Rushdoony.

EVOLUCIONISMO - PARTE 3: CRISTIANISMO E EVOLUCIONISMO, UM CASAMENTO IMPOSSÍVEL.


Os cristãos que tentam adaptar o Cristianismo e o evolucionismo têm um pensamento dialético, duas fontes de conhecimento. Como diz Rushdoony em "Mythology of Science," eles alegam que se baseiam na Revelação especial de Deus, a Escritura, e na "Revelação Natural", descoberta pela razão e pela ciência. A Bíblia diz respeito somente às coisas "sobrenaturais"; a ciência, à "natureza". Mas esse pensamento dialético tenderá sempre para um dos lados, terminando em conflito inevitável. Ou exigirá um esforço sobre-humano para evitar o desastre e manter o "equilíbrio" superficial que só existe por decreto positivo e consenso (consenso que nunca acontece). Esse tal "equilíbrio" só pode existir na base da força (hipoteticamente, porque esse equilíbrio nunca ocorre). Quem espera convencer um não-cristão de que o Deus cristão é "possível" desenvolvendo uma tese de teísmo evolucionista amargará o eterno fracasso caso queira convertê-lo genuinamente, porque, na prática, o que apologeta faz é retirar da Palavra de Deus o direito de interpretar os fatos. Alguns teístas evolucionistas chegam ao ponto de dizer que a linguagem da Bíblia não pode ajudar em nada sobre astronomia, biologia e até mesmo história. Eles esperam, com isto, tornar o cristianismo mais intelectualmente aceitável?! Aleijando a Bíblia? Este pensamento dialético não é muita coisa além de uma forma de tomismo. Há uma série de pressupostos metafísicos envolvidos que aleijam a Escritura.

****

Mais irônico ainda é ver indivíduos que conseguem defender o evolucionismo e qualquer teoria de "direito natural" ao mesmo tempo, sem perceber que a teleologia de ambos torna esta união, para dizer o mínimo, esquizofrênica. Deus seria sádico ao colocar sobre a Criação uma lei contrária à lei da "evolução" onde as espécies lutam entre si pela sobrevivência? Os próprios evolucionistas, digam-se de passagem, não acreditam mais que a "seleção natural" seja suficiente para explicar a suposta evolução das espécies. Mas mesmo assim, alguns cristãos no passado subscreveram-na. Seriam eles honestos ou apenas renderiam a própria fé a fim de torná-la aceitável na academia? 

****

10 perguntas a cristãos evolucionistas.

1. Se Adão não existiu, como o pecado entrou no mundo?

2. Como podemos dizer, então, que o mal e a morte entraram no mundo?

3. Se o evolucionismo está correto, sofrimento, morte, doença e violência independem da desobediência do homem. Logo, Deus criou o mundo junto com o mal?

4. Em vez de o mal ser responsabilidade humana, de quem seria a responsabilidade?

5. Se Adão não tem responsabilidade sobre o pecado, por que temos uma natureza pecaminosa?

6. Seria o que entendemos por "natureza pecaminosa" na verdade somente um problema evolutivo? Com o tempo, seremos evolutivamente mais parecidos com Cristo?

7. Se Adão não foi nosso representante federal para que todo homem fosse pecador, por que entenderíamos Cristo como o representante federal para a salvação?

8. Se Cristo não é o "novo Adão" num sentido literal, e o pecado é fruto de um estágio evolutivo em desenvolvimento, podemos dizer que Cristo é apenas um ser humano evoluído?

9. Seria a santificação um processo evolutivo?

10. Se o pecado é fruto de um estágio inferior da evolução, por que seríamos salvos pela fé? Por que precisamos de salvação se somos apenas involuídos?


É difícil existir uma fé cristã nessa perspectiva. É claro também que essas perguntas podem desembocar em outras milhões de perguntas. O resultado seria, na melhor das hipóteses, uma espécie de existencialismo cristão onde tudo é simbólico. Mas isso já existe. Alguns chamam de neo-ortodoxia, outros de Teologia da Morte de Deus.

EVOLUCIONISMO - PARTE 2: CONSEQUÊNCIAS

1. O Darwinismo foi o ápice e a nêmese do Iluminismo ao mesmo tempo.
"Os pensadores iluministas enfatizaram a supremacia da razão humana e viram a natureza como a fonte da lei, dando-se ao luxo de selecionar e fatiar quais elementos da tradição cristã eram racionais e refletiam as leis da natureza. Charles Darwin, contudo, destruiu a possibilidade da natureza como fonte da lei. Ele reviveu a antiga ideia pagã do caos como regenerador. Procurando por um mecanismo naturalista para a evolução biológica, Darwin entronou o acaso como a base operacional da natureza. Na medida em que o pensamento evolucionista esticou os milhares de anos de Darwin em milhões de anos, o pensamento moderno perdeu a fé na razão. Dados os novos pressupostos sobre o homem na antropologia evolucionista, a razão veio a ser vista como um fenômeno retardatário na cena humana. O Darwinismo humilhou os dois pilares em que o homem moderno lutou para legitimar seu humanismo." - Mark Rushdoony.

2. O Darwinismo e a convulsão revolucionária.

Quando observada por um cristão atento, que com cautela e discernimento reconhece a árvore pelos frutos, a obra de Charles Darwin não só pode como deve ser vista como verdadeiramente maligna. Seja no niilismo, no marxismo, no existencialismo, no pragmatismo, na relativização da vida humana no aborto, na eugenia, nas técnicas psicológicas e educacionais de controle social, na destruição da fé e da razão, na desespiritualização das relações sociais,... em tudo isso podemos encontrar as impressões digitais de sua obra. Nietzsche, Stalin, Marx, Freud, Hitler, Dewey, Sanger [sim, até no feminismo o evolucionismo teve efeitos] e tantos outros acharam em Darwin uma mentira destruidora que trouxe o mundo ocidental ao colapso.

O evolucionismo conduz ao rompimento entre o futuro e o passado, razão pela qual ele impulsiona a revolução, especialmente o progressismo em nossos dias. Para o darwinismo, não mudar significa morrer. A perspectiva evolucionária impulsiona à mudança e a conclusão lógica é a de que a sociedade precisa mudar para sobreviver. A mudança deve ser encorajada, a história deve ser desacreditada. A mudança contínua da sociedade, então, torna-se uma proteção para a sociedade; devemos mudar para sobreviver. Tornamo-nos uma sociedade do "vir a ser". Sem pestanejar, reconhecemos nisto que o darwinismo é uma filosofia da existência. Em vez de preservarmos as leis, as instituições - como a própria família -, a propriedade e as leis, deveríamos destruí-las, porque elas são regressivas. Desta forma, a partir do séc. XX, especialmente, o abismo entre o presente e o passado torna-se omnioso porque as soluções do passado não funcionam para hoje; precisamos mudar pra sobreviver. As leis acabam influenciadas pelas mudanças sociais. Aquilo que o homem pecador julga como necessidade ou conveniência torna-se o padrão das leis. O homem torna-se legislador e também predestinador, que quer conduzir o mundo a um objetivo previsto pelo próprio homem. A revolução sexual, o feminismo, e tantos outros movimentos atuais, brotam da semente darwinista. A sabedoria eterna de Deus e a sabedoria milenar dos homens é menosprezada. A moral cristã é "algo do passado". Não há fórmulas para a sociedade, exceto a do momento. E isso conduz o homem existencialista a jogar-se ainda mais profundamente no momento presente, elegendo o 'carpe diem' como seu lema. Nesse contexto, surge o pragmatismo, que adaptou essa necessidade de mudança, com nomes como John Dewey e principalmente Oliver Wendell Holmes. Isto está por trás do ativismo judicial de nossos dias em todo o Ocidente. 


A Cidade dos Homens e a Cidade de Deus tornam-se cada vez mais perceptíveis em sua insolubilidade. O joio e o trigo crescem e são reconhecidos.

3. Niilismo.

Revisando algumas músicas que compuseram as playlists da minha adolescência, eis que me deparo com "Do The Evolution", do Pearl Jam, e vejam o quanto eu nadava em niilismo. O clip desta música é absolutamente niilista, esse relato pessimista da agonia do homem. A referência central da letra ao evolucionismo também é extremamente relevante e aponta para o papel crucial que Darwin desempenhou, não apenas no ataque à cosmovisão cristã, mas na desilusão dos humanistas em sua esperança escatológica de um paraíso terreno futuro. Tudo é cinismo, caos, absurdo e não existe sequer um sentido para a história, que nada mais é do que uma luta incessante por poder, onde o próprio conceito de "evolução" perde a consistência.

https://www.youtube.com/watch?v=aDaOgu2CQtI

EVOLUCIONISMO - PARTE 1: SOBRE DARWIN

Francis Schaeffer já explicara que o evolucionismo serve para dar a falsa sensação de progresso e sentido em um mundo sem Deus. Ele vem resolver uma lacuna na cosmovisão não-cristã, dando um sentido à história, dando ao mundo um passado e ao homem um horizonte escatológico. 

Diga-se de passagem, o título original da obra de Darwin era "A Evolução das Espécies ou A Sobrevivência das Raças Favorecidas na Luta Pela Vida." Ou seja, a obra era racista desde o título. Darwin é responsável pela explosão do racismo no séc. XX e no ensino médio esta informação é totalmente abafada. [Nem deixam explícito, contudo, que foram cristãos protestantes brancos do Império Britânico os grandes abolicionistas.]

Algumas coisas interessantes sobre Darwin:

1. A família de Darwin parecia interessada em eugenia. Ele mesmo casou-se com uma prima de primeiro grau. O intuito de sua família era a proteção do patrimônio. 

2. O mito evolucionista sempre existiu em culturas pagãs antigas, embora se expressasse de outras formas. Darwin, portanto, não criou nada original. Ele apenas deu uma roupagem biológica para algo que já existia em outras expressões. Sua obra parece, sobretudo, como diz Rushdoony, inspirada na obra de Hegel. Ou seja, em um pressuposto filosófico (e sabemos hoje que ocultista também). O avô de Darwin, por sinal, era maçom.

3. O aspecto de evolução como luta pela sobrevivência também não é original. Alguns intelectuais dizem que foi inspirado na obra de Adam Smith no campo da economia. Assim como no mercado a competição produz melhores condições de vida, também na luta evolutiva das espécies isso aconteceria. Rushdoony diz ainda que não tratou-se de forma alguma de novas descobertas arqueológicas, nem de qualquer evidência objetiva, mas apenas de uma nova interpretação para as informações já disponíveis na época.

4. Como Nancy Pearcey diz ainda, a obra de Darwin também alimentou o feminismo (por mais absurdo que isto pareça) no séc. XX porque os homens, por estarem lidando com a competição no mercado de trabalho, teriam supostamente mais incentivos para a evolução, enquanto as mulheres estavam protegidas em casa. Bizarrice.


5. A explosão da teoria evolucionista (seu livro esgotou em 48 horas) nunca baseou-se em constatações científicas, mas apenas em uma "fé naturalista." Autores da época reconheciam isto explicitamente. Seu sucesso se deve à ânsia dos cientistas de seu tempo de encontrar uma alternativa ao cristianismo, pura e simplesmente. 

A obra de Darwin foi importante para consolidar a classe dos "cientistas" como os sacerdotes da modernidade. Eles, os cientistas, são responsáveis por trazer a "revelação" e dizer qual é a verdade do universo. Como vivem reformulando suas teorias, logo vê-se que andam longe da infalibilidade. O profetismo cientificista começou a alimentar a revolução com o mito de uma humanidade evoluída que deixaria para trás, não apenas o trabalho, as doenças - e talvez a própria morte -, mas também, com Nietzsche, os valores morais. Um grande desejo gnóstico é evidente nos delírios de alguns cientistas no século XX. Os campos de concentração nazistas continuam erguidos como testemunhas da loucura do homem moderno e Darwinista. E em sua loucura desprovida de Deus, finalmente transformaram aquelas fábricas de morte em ponto turístico.

EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO DA REVOLUÇÃO

Quando fala-se dos efeitos deletérios da obra de John Locke, com especial destaque para o insight de Rushdoony em "Esquizofrenia Intelectual" sobre o papel da pressuposição de que a mente humana é uma "tábua em branco" como sendo a causa da educação revolucionária [1], esquece-se de que Locke na verdade bebeu em Tomás, que bebeu em Aristóteles antes.

"Porém, o intelecto humano, ínfimo na ordem dos intelectos e maximamente remoto da perfeição do intelecto divino, é potencial em relação aos inteligíveis; e, no princípio, é uma **como tábua em que nada está escrito**, como diz o Filósofo." (Suma Teológica, Ia Parte, Q. 79, a. 2.)

Como van Til explica em "A Survey of Christian Epistemology", o retorno a modos de pensar gregos, incluindo a tentativa de casar o cristianismo e o aristotelismo em Tomás (um verdadeiro adultério espiritual), introduziu modos anti-cristãos de pensamento no Ocidente. Quando enxergamos a mente como uma "tábua em branco", cremos que é possível imprimir nela qualquer coisa; para criar um novo homem, precisaríamos apenas dar uma nova educação. As escolas públicas dos EUA e do mundo inteiro assumem esta premissa anti-cristã. O anti-cristianismo ocidental tem nela um forte fundamento.

[1] Se o ser humano nasce como uma tábua em branco, significa que ele pode ser moldado. Se ele comete crimes, é por causa do "ambiente" em que foi criado e da "educação" que recebeu (ou que deixou de receber). Mudando-se o ambiente e a educação, um novo tipo de ser humano seria alcançado.

BRASILIDADE

"Não tenho muita afinidade com o povo brasileiro em geral, e não nego que muitas características típicas dos brasileiros incomodam-me. Sobretudo a mania de transformar tais defeitos de caráter em peculiaridades antropológicas - daí a lenda do Brasileiro Cordial; o culto a Macunaíma, o herói sem nenhum caráter; a exaltação da malandragem, do improviso, do jeitinho, do carnaval, do futebol - como se tudo isso fosse um traço identitário nosso." [Pedro Mundim]

Brasileiro não é mal educado e deselegante; é "caloroso".

RUSHDOONY SOBRE LIBERTARIANISMO

Rushdoony, em "The One and The Many", defende que o libertário pode ser identificado com um daqueles "cientistas" aos quais Ortega & Gasset se referiu [o "Barbarismo dos especialistas"], por assumir que "a civilização existe da mesma forma que a crosta terrestre ou a floresta primitiva." O quadro complica-se com a influência do darwinismo, quando a civilização e a cultura passam a ser vistas como produtos da evolução humana. Estes bárbaros ameaçam séculos de desenvolvimento.

Alguns libertários, ele explica, desejam voltar à formulações teóricas do séc. XVIII - a saber, uma fé morta. Em parte, eles reconhecem a crise dos valores do momento presente e desejam de alguma forma desenhar um novo tipo de valor a partir da ciência e da factualidade bruta. Querem extrair da deusa natureza, através de testes, medições ou através da lei natural, algum argumento que prove que a natureza permite a existência da liberdade. Para Rush, "esse procedimento apenas sublinha a subserviência do homem e sua liberdade ilusória à natureza, uma força cega ou energia em movimento". 

Eles falham ainda em ver a essência do problema cultural, pois a liberdade daqueles teóricos em que se inspiram foi acidental; basicamente humanista, o estatismo é da essência da dialética humanista, tanto quanto o próprio libertarianismo. Ademais, o libertarianismo reflete uma espécie de nominalismo político e termina por absolutizar a lei econômica, destruindo a autonomia das outras esferas da realidade - algo que os aproxima dos marxistas, a propósito.

Finalmente, o libertário falha em perceber que a liberdade e a riqueza ocidentais não são dados da natureza, mas frutos de uma construção histórica do cristianismo. Ela demorou para ser construída.

**********

De uma perspectiva dooyeweerdiana:


"A realidade rapidamente foi reduzida a uma instituição ou disciplina particular da qual os homens eram os governadores e intérpretes. A mesma falácia marcou a economia, onde muitos advogados do livre mercado sob a influência da filosofia imanentista tomaram esta única esfera de lei e absolutizaram-na como a única lei. Nós concordamos com a economia clássica como economia, mas não como uma filosofia religiosa. Quando ela converte-se em uma filosofia religiosa imanentista, ela nega a validade de qualquer lei transcendente de Deus e de quaisquer outras instituições e ordens da vida a menos que estas passem pelo teste do livre mercado. A economia de livre mercado (...) torna-se idolatria. (...) Qualquer outro valor derivado de qualquer outra esfera, de Deus, precisa competir sobre uma base do livre mercado, é dito. Isto é apenas afirmar que o livre mercado é um deus, e que ele é absoluto e valor único no universo. (...) Os marxistas, não menos que outros totalitários, abusam de uma ou duas "verdades" parciais, que eles usam pra excluir toda verdade e Deus, e o mesmo é verdade daqueles que reduzem o mundo à matéria. Os religiosos do livre mercado são grandes inimigos do livre mercado, na medida em que eles transformam um instrumento de liberdade em uma forma de totalitarismo. Não é surpreendente que muitos religiosos do livre mercado recentemente foram muito convenientes para a Nova Esquerda; ambos se parecem em seu totalitarismo estridente."
- R. J. Rushdoony

PRESSUPOSTOS RELIGIOSOS E POLÍTICA

Deísmo, pietismo e esquerdismo andam de mãos dadas. Veja: para o pós-moderno, "Deus está morto". É claro que esta afirmação não significa uma realidade literal [Deus não pode morrer, afinal], mas quer dizer apenas que Deus não tem relevância para o homem ocidental dos nossos dias. Isto significa que o homem é livre pra ser o próprio planejador, segundo os próprios princípios. O pietismo, ao reduzir a fé somente à esfera teológica, deixa a área política para o planejamento do homem autônomo. O deísmo também acredita que Deus não intervém no mundo. Pouco interessa se Deus existe ou não; nos casos acima, é o homem quem comanda a política. Deus se interessa somente pela "salvação das almas"; este mundo está condenado pela ausência de Deus. Sua teologia diz qual é seu posicionamento político.

APOSTASIA DA RAZÃO

O protestantismo liberal foi uma tentativa de adaptar a fé cristã aos temas dominantes de sua era. A neo-ortodoxia segue a mesma tendência básica. Mas isso não é fenômeno novo na história da igreja. Voltemos a Orígenes, tentando adaptar o cristianismo às correntes dominantes do pensamento greco-romano. Depois Pedro Lombardo e Tomás tentando sintetizar cristianismo e aristotelismo. Nada novo debaixo do sol.

TOLERÂNCIA RELIGIOSA SEM SENTIMENTALISMOS

Tolerância religiosa irrestrita é impossível. Se algum país no mundo estabelecesse tolerância irrestrita, o resultado seria a anarquia completa. Há religiões que praticam canibalismo, sacrifícios humanos, poligamia, prostituição ritual, etc.. Se todas fossem toleradas, isso significaria a abolição de toda ideia de crime. Nos EUA, um mórmon alegou que o estado não poderia prejudicar sua fé ao proibi-lo de casar com várias mulheres, porque o mormonismo permite a poligamia. O resultado seria o caos. [Parafraseando Rushdoony.]

Uma das causas da cegueira ocidental nesta questão é o trabalho fraudulento de etnólogos e estudiosos das religiões do passado, que desejavam fechar os olhos para as diferenças profundas entre as diversas religiões a fim de procurar nelas somente um "denominador comum" com mensagens de paz e união. Trata-se de uma farsa evidente. Eles não queriam conhecer as religiões, mas enfiá-las a todo custo dentro de seus ideais humanistas e universalistas. Ernst Troeltsch, sociólogo alemão, entendeu que uma das características da espiritualidade moderna é a abertura vaga ao transcendente, com rejeição a qualquer tentativa de imposição de um conteúdo objetivo à religião em si. A conclusão desta premissa é sempre o desentendimento.

O mundo antigo não conhecia discriminação por raça, mas por religião, por uma razão simples: cada religião tem uma lei própria. Outra causa é o politicamente correto dos nossos dias, que prega a mentira sistemática a fim de que as pessoas não vejam os problemas reais de outras tradições para evitar qualquer forma de julgamento. O relativismo surge como um vírus para corroer as defesas do Ocidente, fazendo parecer que todas as religiões podem ser toleradas, mas que na prática não tolera religião alguma, tendo sempre que deformá-las dentro de seu próprio credo modernista e humanista.

O HUMANISTAS QUEREM COMPETIR COM CRISTO - O CASO DAS ONG's


As ONG's são as novas ordens religiosas. Enquanto querem taxar as igrejas, as ONG's recebem financiamento estatal pra fazer, em muitos casos, aquilo que era obrigação da Igreja. Mas as ONG's são mais aceitáveis, porque elas mantém a ficção secularizante, roubam a caridade do Cristianismo e transferem o mérito de Cristo para a "boa vontade" humanitarista. As ONG's são as ordens monásticas do humanismo, proclamando o politicamente correto e promovendo o Reino do Homem. A modernidade é uma ficção de divindade usurpada, como Adão e Eva desejaram no Éden. São a farsa narcisista de um mundo que quer ser melhor do que Deus.

PÚBLICO OU PRIVADO: QUAL É O DILEMA?

"Muitos conservadores são profundamente preocupados em requerer as esferas pública e privada das mãos do estado, mas como Cristãos nós devemos adicionar que a distinção básica não é entre esferas pública e privada, mas entre o requerimento total de Deus sobre todas as esferas e a tentativa do homem rebelde de excluir Deus de todas as esferas. Nenhuma esfera pertence ao homem ou ao estado, mas a Deus. Todas as coisas devem ser feitas de acordo com sua Palavra e para sua Glória. O estado, a igreja, pessoas, escolas, as artes e ciências, tudo deve servi-lo."
- R.J. Rushdoony.

Herman Dooyeweerd vai na essência do problema.

IGREJA DE REDIMIDOS versus IGREJA DE REDENTORES

Uma das diferenças entre uma igreja ortodoxa e uma heterodoxa é que a ortodoxa é uma assembleia de redimidos, enquanto a heterodoxa é uma assembleia de redentores. A primeira é a conservadora, a segunda é claramente a progressista brasileira. E a segunda quer provar que é redentora submetendo-se, não aos testes de Deus, mas aos testes dos redentores humanistas. Assim, alinhar-se-ão com o politicamente correto, julgando provar por esses termos o seu cristianismo, acima do cristianismo dos outros. "Vejam, diferentemente dos cristãos 'conservadores', eu realmente luto pelos pobres, pelos negros, pelos excluídos!" Ou "precisamos de uma teologia adequada pra nossa realidade social." [Reflexão sobre Rushdoony.]

DEBATE COM ABORTISTAS?

DEBATE COM ABORTISTAS?

Quando debato com abortistas, procuro desmascarar sua maldade com uma pergunta simples: qual é o método de aborto que você prefere? Envenenamento ou esquartejamento? Porque é isso o que é. Basta dar os nomes reais à prática. Experimente apresentar vídeos de abortos reais do youtube. Mas por que isso? Tudo o que os abortistas querem é levar o debate para o campo da pura abstração. Um vídeo mostra até mesmo que o bebê se mexe durante o aborto. Um pouco de realismo faz bem.


*********

"Bebês são amontoados de células", disse a feminista. Acontece que, se Deus não existe, você também é apenas um amontoado de células. Você não é uma pessoa. O conceito de pessoalidade é uma construção cristã. Se Deus existe, o universo não é impessoal: porque Deus é três pessoas, nós, seres humanos, sendo criados à sua Imagem e Semelhança, também somos pessoas. Se Deus não existe, como defendem aqueles que creem na cosmovisão materialista-naturalista, o universo é movido por leis impessoais e, consequentemente, não pode existir "eu" nenhum. O "eu" não passa de uma ilusão criada pelas reações químicas no cérebro em contato com as percepções sensoriais. Os seres humanos são apenas máquinas biológicas ou macacos com cérebro avantajado. Se Deus não existe, assassinar bebês não é errado. E assassinar ser humano algum pode ser defendido como errado também. Este é o niilismo que diz sim ao abismo.
A RELIGIÃO POLÍTICA

Os efeitos da apostasia são catastróficos. O marxismo tem em comum com o cristianismo uma visão linear da história. Em comparação, a história para os gregos era circular. O cristianismo foi o primeiro a dar sentido à história, buscando entender a relação de Deus com a humanidade até a consumação dos tempos. Básica pra essa visão da história é a doutrina da Providência. Mas uma vez que a transcendência foi negada, a Providência foi substituída pelo "progresso" do mundo através de leis sociais e mecanicistas. O "progresso" foi talvez o maior mito do séc. XIX. Assim, Marx, na qualidade de profeta, quis curiosamente escapar e controlar o motor da história rumo ao seu fim. Era supostamente uma teoria científica. O homem substitui Deus como predestinador.

"Marx apenas compreendeu que uma religião sem transcendência chamava-se precisamente política." [Albert Camus]

[Nota sobre Rushdoony e Albert Camus em "O Homem Revoltado."] 

A EDUCAÇÃO COMO UMA MALIGNA DISTORÇÃO DA OBRA DO ESPÍRITO SANTO

Toda sociedade, para manter a ordem, precisa que os indivíduos busquem atingir um certo padrão moral/comportamental. Se uma sociedade do ocidente abole a fé e nega a possibilidade de regeneração pelo Espírito Santo, ela buscará criar o novo homem através do rígido controle estatal em todas as esferas da vida, incluindo o pensamento; e o poder estatal é sempre a coerção.

Seja ela marxista, progressista, existencialista ou pragmática, a educação hoje não passa de manipulação, do uso de crianças em um parque fabril (disfarçado de escola), como se fossem matérias-primas do "novo homem". 

************

"Aqueles delinqüentes só precisavam de educação." "Precisamos investir em educação pra diminuir a criminalidade." Esta conversa fiada é repetida diariamente como um mantra. Além do pressuposto por trás dessas afirmações levar à conclusão de que alguém sem formação escolar ou universitária será necessariamente um delinqüente imoral - o que é uma mentira verdadeiramente típica do elitismo -, ele também não se prova empiricamente diante dos "crimes da razão", dos quais a maior parte dos "intelectuais" dos últimos séculos são culpados, como bem lançou-lhes na face o escritor Albert Camus, que sequer era cristão. Porque a Alemanha que pariu o nazismo já foi um dos maiores centros intelectuais do mundo, e os intelectuais do Ocidente orgulhavam-se de seu fetiche por Stálin e Mao. Essa visão da religião humanista é "ambientalista", gera o fim da lei e produz gerações consumistas que culpam suas carências antes de reconhecer a responsabilidade individual. Antes de dizerem "pequei porque quis", dirão "pequei porque a sociedade não me deu isso ou aquilo". Não é de "educação" que os criminosos e delinqüentes precisam, mas de Cristo. Depois trabalhamos pelas demais coisas com a graça de Deus. Primeiro o Reino de Deus e elas nos serão acrescentadas.

REBELDIA KITSCH

O humanismo substituiu a lei moral pelo emocionalismo histérico; a verdade pela opinião pública; e a justiça pela vontade popular. Vivemos uma era da aparência, da teatralização constitucional e da revolta kitsch, porque não existe essência ou verdade em nada. É uma loucura.

CONTRA OS LIBERTÁRIOS: A RELAÇÃO ENTRE RELIGIÃO E ECONOMIA

CONTRA OS LIBERTÁRIOS: A RELAÇÃO ENTRE RELIGIÃO E ECONOMIA

[Reflexão sobre uma aula de R. J. Rushdoony.]

A crise econômica do mundo não se resolve com simples mudanças de leis, porque esse problema é também religioso. O capitalismo surgiu como consequência de uma série de valores culturais-religiosos. 


Existe um argumento moral para o dinheiro, o trabalho e o comércio, bem como existe uma cosmovisão que dá sentido a essas coisas. Para os puritanos, por exemplo, o trabalho era visto como uma vocação para construção do Reino e para a glória de Deus, seguindo a lei, sem gastos fúteis - o que permitiu o acúmulo de bens. Por outro lado, se Deus não existe, o mundo não tem sentido e, como para Sartre, nossa única certeza é a morte; o trabalho também não tem um sentido. Para Albert Camus, a continuação, a rotina do "acordar, bonde, quatro horas no escritório, almoço, quatro horas de escritório, bonde [...]"*, é feita tão somente de grilhões, porque lhes falta um "porquê".

Para os puritanos, como dito acima, o trabalho era uma vocação para a construção. Para o homem contemporâneo o trabalho é apenas um fardo. Rejeitando o descanso dado por Deus no Shabat (o domingo cristão), ele transfere o descanso para as férias e para a aposentadoria. Seu dinheiro não visa construir, mas apenas consumir.

O homem moderno se tornou um consumidor, não um produtor. Ele não construirá herança para seus filhos. Por que ter filhos se nada tem sentido? Ele queimará seu dinheiro em uma coleção de carros, viagens e festas. As nações hoje preocupam-se mais em consumir do que em produzir e por esta razão todos os países ocidentais amargam dívidas econômicas com uma enorme quantidade de casas decimais. Keynes está inserido nessa bancarrota. Sua única certeza é a morte.

* Em "O Mito de Sísifo".



**********


A demanda por intervenção estatal é um impulso ateísta na política que quer passar por cima da Providência divina (elegendo o estado como entidade providenciadora e predestinadora) para executar um modelo de justiça não-cristão e imediatista no mundo. Quando deixamos de crer na Providência e predestinação divinas, estes conceitos são transferidos para a razão humana e para o estado. Os revolucionários desejam controlar o futuro no lugar de Deus.

Livrinho simples: "Ateísmo Econômico", rev. P. Andrew Sandlin. Ed. Monergismo. Para Kindle.

REDENÇÃO CRISTÃ versus REDENÇÃO HUMANISTA

"Essa secularização aparece já no início do humanismo na Renascença italiana. Um renascimento puramente secular é proclamado. A concepção bíblica de regeneração é desnaturada e se torna a expressão do novo motivo humanista da liberdade. Este último nada mais é que uma secularização do tema bíblico da liberdade em Cristo Jesus, o resultado da redenção. Ele proclama a autonomia humana, a qual pretensamente deve realizar uma revolução copernicana no centro do seu ser, na religião. A personalidade humana é elevada à posição de um fim último, um “Selbstweck”, um fim em si mesmo. O moderno homem autônomo deseja criar um deus à sua própria imagem, que ele possa justificar em uma teodiceia racional." (Herman Dooyeweerd, "A Secularização das Ciências".)

A redenção em Cristo foi substituída pela redenção como libertação da personalidade. 

**********

O desafio do cristianismo no presente século não é sobreviver como doutrina e moral, mas, como diz Carlos Mendoza-Álvarez, "transmitir a fé em Deus segundo uma experiência de cumprimento humano e da criação inteira." Pensar em meramente "sobreviver" em meio aos ditames do secularismo é já ser derrotado, saboreando ainda a amargura da inércia dos últimos séculos, onde nos acomodamos à finalidade de prover alguma "moralidade" à sociedade, como se fôssemos um departamento do estado humanista, excluídos para a periferia da vida real. Trata-se, antes, de concorrer com a redenção humanista, com seu conceito ateísta de liberdade (pra não deixarmos de falar em Prinsterer), tão esteticamente poderoso e aterrador desde a Revolução Francesa. Trata-se de desmascarar a falsa redenção naturalista e apresentar a redenção em Cristo em sua solução existencial para o homem e para o mundo. Trata-se de lutar contra a mesma falsa redenção oferecida pela serpente no Éden, a de uma emancipação realizadora e divinizante, em que deixamos de simplesmente rivalizar com o Criador em nossa rebeldia (e falsa) metafísica. Trata-de simplesmente de pregar o evangelho e toda a Escritura, com todo o seu poder e vitalidade, sem prescindir em um único centímetro do Senhorio de Cristo, a começar pela destruição da antinomia epistemológica moderna, que também estava no Éden.


************
O EVANGELHO DA PÓS-MODERNIDADE 

O evangelho da pós-modernidade é a liberdade absoluta: "Não existe bem ou mal, nem existe verdade ou mentira; portanto alegre-se, você é livre! Não há nada que te frustre, que te amarre ou te limite. Esta é a 'boa nova' que te revelamos: Deus está morto!"

DEUS, CÉSAR E A LIBERDADE CIVIL

Quando Cristo diz "Dai a César o que é de César", está dizendo que temos obrigações para com os governantes; não está dizendo de forma nenhuma que os governantes não têm obrigações para com Deus. Quem disse que "não temos rei senão César" foram os que queriam o Senhor morto. 

Supor que os governantes não têm obrigações para com Deus equivale a dizer que eles são livres de amarras morais para matar quem quiserem, que são soberanos em si mesmos; e seu governo logo torna-se tirania. Sem a lei transcendente e eterna de Deus, o estado não conhece limites. Isso é verdade somente no tocante à autoridade civil, mas a quaisquer autoridades; pais que não prestam contas a Deus também podem ser tiranos. Sem Deus, a natureza humana pecaminosa conduz ao abuso da autoridade. Somente o Cristianismo pode prover verdadeira liberdade civil, por negar ao estado o status de divindade que o pensamento pagão concede ao governante. Esta foi a causa da perseguição sofrida nas mãos dos imperadores romanos nos primeiros séculos.

Quando o ocidental moderno fala de liberdade, ele se refere a ela em outro sentido: liberdade contra Deus. E isso significa finalmente uma fuga da responsabilidade individual e uma busca por escravidão estatal. O homem moderno só tem interesse, quase que exclusivamente, em liberdade sexual, mesmo que isso seja apenas um disfarce para sua escravidão disfarçada.

NIETZSCHE ERA FILHO DE UM PASTOR!

"Mimimi... Nietzsche era filho de pastor luterano..."

E daí, cara pálida? O que falar de Tommaso Campanella, que era dominicano e revolucionário? Ou Voltaire e o próprio Fidel Castro, ambos educados por jesuítas? E os franciscanos radicais? Isso prova alguma coisa? Quando isso vem à tona, duvido que prove.

Ainda consigo me impressionar com a perseguição feita por tolos cujo propósito é a mais pura difamação. O que existe hoje é uma verdadeira "narrativa" política contra a Reforma Protestante, assim como aquela que a esquerda produz. Somos o bode expiatório.