domingo, 13 de maio de 2018

PREDESTINAÇÃO: DIVINA OU ESTATAL?

Uma das duas motivações religiosas mais importantes na modernidade é a liberdade da personalidade humana.

Groen van Prinsterer identificou a causa das revoluções em um "conceito ateísta de liberdade". Herman Dooyeweerd, depois dele, entendeu que o motivo religioso básico do pensamento moderno é a luta dialética entre liberdade da personalidade e o conceito moderno de natureza.

Este pressuposto religioso de liberdade não resume-se apenas à esfera do ateísmo, mas pode ser visto semelhantemente no Deísmo e também em uma síntese de novas formas de Cristianismo. No Deísmo, Deus não interfere no mundo, e portanto, toda a responsabilidade está sobre as decisões livres dos homens. Muitos iluministas eram deístas.

Em formas sincréticas de Cristianismo, o homem absolutamente livre precisa ser livre no sentido em que Deus é livre. Contudo, a liberdade absoluta de Deus e do homem não podem coexistir. Neste sentido, eventualmente Deus precisa ser colocado na dependência da liberdade absoluta do homem; Deus apenas "responde à liberdade do homem". Como dizem tais evangelistas, "Deus quer salvar você, dê a Ele uma chance...". O destino, portanto, é colocado nas mãos do homem, não de Deus.

Nas três perspectivas, o homem transforma-se no "predestinador" de si mesmo e da sociedade. Uma vez negado o efeito da Queda no ser humano, a predestinação precisa assumir sua forma estatal, e o Estado controla todos os aspectos da vida humana, predestinando-os ao fim desejado.

O que dizem os marxistas, foucaultianos e tantos outros? Que Deus é uma invenção de grupos que usam-nO para controlar as massas, ou seja, um instrumento para um fim predestinado pelas "elites". Eles estão apenas seguindo os próprios pressupostos.

Tal liberdade está enraizada na filosofia grega, onde o rompimento com as religiões gregas tradicionais em busca da interpretação do universo a partir de uma forma especial de psicologia conduziu Platão, por exemplo, a imaginar um modelo de sociedade proto-comunista totalitária, com eugenia e ferrenho controle cultural e social. Cornelius van Til demonstra como no fim do Escolasticismo o resgate do pensamento grego introduziu modos anti-cristãos de pensamento, c
om o novo entendimento da razão autônoma e "neutra". Frei Josaphat, por exemplo, em seu livro "Tomás de Aquino e a Nova Era do Espírito", comenta brevemente sobre o erro de tradução das obras de Aristóteles que conduziram Tomás a entender a liberdade como ser "causa de si mesmo". 

No humanismo, ela já expressa-se na forma imperialista da Monarquia de Dante Alighieri. O Estado seria o responsável por conduzir a comunidade humana à "perfeição" segundo a razão natural e dentro de seu propósito "natural". Isto, é claro, já estava em Aristóteles. Muitos contribuíram para o desenvolvimento dessa visão, especialmente Marsílio de Pádua, que influenciou reis "protestantes" que tentaram dominar a Reforma Protestante. [Em outros textos eu explico como tal tentativa foi contrária à teologia dos reformadores, mais especialmente de João Calvino.]

No Iluminismo, ela ganha sua forma mais consistente, até o Estado divinizado. A predestinação, portanto, sai de Deus e entra no mundo, é "imanentizada" e assume sua forma mais terrível no Estado totalitário moderno. Como a vontade e a razão do homem caído tendem ao pecado, e o pecado é a escravidão ao Inimigo, a "liberdade do homem" [contra a predestinação de Deus] nada mais é do que a escravização completa do homem àquele que sujeitou a criação à vaidade. (Rm 8:20) E o Estado totalitário deve ser reconhecido simplesmente como o reino do mal.

[Reflexões em Andrew Sandlin e Rushdoony.]

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