terça-feira, 10 de julho de 2018

A Besta que Emerge do Mar

A BESTA QUE EMERGE DO MAR.

Nascemos em um século onde o estado moderno já existia e, no máximo, vemos seu agigantamento para áreas antes entendidas como "privadas". Isso tem sido suficiente para dar calafrios nos mais sóbrios. Somos, pela condição de nosso nascimento, incapazes de conceber uma organização social sem esta instituição difícil de ser definida. Mas nem sempre foi assim.

No passado, o estado como conhecemos não existia - e ninguém se preocupava com isso. As relações pessoais eram definidas pela família ou por um senhor, pela comunidade local ou pela associação religiosa. Quem não podia sobreviver nestes termos, tornava-se um servo ou escravo. E os valores daqueles tempos eram definidos em termos destas relações. Quem não era guardado dentro de alguma destas esferas estava perdido. Os sacrifícios pessoais eram feitos em nome da família, do senhor, da comunidade ou da religião. O poder organizador dessas sociedades também era menor; era difícil juntar uma grande quantidade de pessoas para trabalhar por um longo período. Não era possível para um governante, ainda que ele se considerasse soberano, estabelecer um controle forte sobre um longo território (as publicações papais, por exemplo, podiam levar muitos meses para atingir seu destino). Havia um senso de obrigação entre as pessoas que se conheciam pessoalmente - mas esse senso de obrigação esvaía-se com a distância. Era impossível fazer grandes organizações para utilizar uma grande quantidade de recursos naturais e humanos.

O desenvolvimento do estado moderno muda tudo isso. Hoje, alguém pode viver relativamente "bem" e com segurança sem ter família, senhor, religião ou mesmo comunidade porque o estado moderno vem superar tudo o que lhe precedeu. Desde a infância ouvimos nos telejornais que pessoas em regiões precárias sem documento de identidade, por exemplo, "não existem". Quem não é conhecido pelo estado "não existe". Esta pessoa é abandonada pela "graça" do estado moderno, sem acesso às suas maravilhosas provisões; sem direitos, sem segurança, sem a possibilidade de desenvolver uma carreira, muito menos o tão amado concurso público do brasileiro. Lamentamos a situação de tal indivíduo como um grande "atraso", merecedor da nossa mais alta piedade. O estado tornou-se tão essencial que na medida em que a civilização moderna alcança uma área considerada "atrasada", seus habitantes formam alguma instituição para lidar com o estado, criam um próprio estado ou refugiam-se em outro já existente. Ninguém consegue fugir do estado.

O estado moderno conseguiu uma organização complexa. Ele surgiu para suprir algumas necessidades e foi tão bem sucedido que voltar-se contra ele tem sido visto como voltar-se contra o humanitarismo. O estado cuida do bebê que nasce em suas maternidades até o idosos sustentado pela previdência. O estado se preocupa com a sua saúde e quer saber a quantidade de sal e açúcar que você consome. Ele se preocupa com a educação dos seus filhos e quer decidir o que eles devem ou não aprender. Quer saber quantas horas de descanso você tem semanalmente e qual é o seu contrato com seu empregador. Quer saber tudo o que você compra e deixa de comprar e oferece prêmios pelas suas notas fiscais. 

Com o avanço da tecnologia, ele tem conseguido o que antes nunca fora possível. Uma ordem pode ser cumprida em poucos minutos a longas distâncias. Nos EUA, eles lêem seus emails para sua segurança. Na China, com câmeras, eles conseguem identificação de todos os cidadãos. Com a preocupação caridosa de algumas empresas de telefonia e internet, ele pode saber onde você esteve ontem à noite. Agora, em nome da caridade, ele está redefinindo e controlando tudo o que existia antes dele: família, relações de trabalho, comunidade e religião. Ele está definindo o que é ou não é a vida (aborto), quem merece ou não viver, que tipo de propagandas você pode ou não ver na TV e muito mais. Ele quer agora redefinir o que é a natureza humana.

No momento em que pude vislumbrar todas estas coisas em conjunto, eu não pude parar de pensar na imagem de uma besta apocalíptica.

Biblicamente, a função das autoridades civis é muito limitada: punir o mal. O ministério da justiça. As autoridades civis existem por causa da Queda, do Pecado Original. É ímpio paganismo que Aristóteles se intrometa na visão cristã de estado, como vemos de Tomás de Aquino a Russell  Kirk. Deus não deu aos magistrados as funções que a conveniência humana (às vezes travestida de "necessidade da razão natural") encontrou nos últimos séculos. Para todos os efeitos, o estado moderno vem fornecer uma "providência" comparada àquela de Deus. E na verdade, para o estatista, o estado serve para proteger os homens da ira de Deus. A torre de Babel foi construída para alcançar os céus e para que, com ela, o ser humano nunca mais fosse morto por um novo dilúvio. A liberdade para o estatista se resume basicamente à liberdade sexual; ou melhor, liberdade contra a moralidade cristã em todas as áreas da vida. Ele preocupa-se com o "bem comum". Em "aperfeiçoar o ser humano". Paganismo, enfiado no cristianismo.

Lembremos que Deus não se agradou do pedido israelita por um rei. Deus diz ao profeta que Israel rejeitou Seu próprio reinado e listou uma série de consequências ruins daquele pedido. (1 Samuel 8:7-22) Deus não se agrada mais do estado moderno, que usurpa sua soberania, do que da monarquia. O estado moderno é muito pior. Antes, Israel tinha uma autoridade tribal, basicamente familiar com uma estrutura religiosa e juízes. Sejamos francos: o povo hebreu era mais livre do que nós somos. O Senhor diz ainda que, uma vez clamando por causa do alto custo do reinado, Ele não escutaria as orações de seu povo. A monarquia trazia consigo um castigo divino. Além das consequências que Deus listou, aquele pedido inaugurou um tempo de grande turbulência e instabilidade até a vinda de Cristo. Mas a Palavra de Deus também diz que, naquele tempo, havia anarquia. Ou seja, o povo não governava-se a si mesmo.

Para R. J. Rushdoony, a liberdade política só é possível para um povo que pratica o auto-governo cristão. Os puritanos praticavam. Saibamos que a Constituição Americana é única no mundo: ela impõe mais limitações ao governo civil do que deveres. Como afirmou o presidente americano John Adams, aquela Constituição só funciona com "um povo moral e religioso." Um povo que obedece a Deus pode ser livre de um governo autoritário. As alternativas humanistas resumem-se à anarquia e ao totalitarismo - mas a anarquia nunca perdura, as pessoas requerem proteção. O abandono da fé cristã conduz ao estado autoritário, ao estado-babá. Abandonamos o Deus predestinador para eleger o estado como predestinador. Deixamos Cristo por César, Paulo por Aristóteles, Calvino por Rousseau. Apenas a fidelidade da igreja pode construir liberdade política.

Um comentário:

  1. Esse texto faz Uma boa e clara leitura da realidade, de fato tudo que vivemos, e a forma que intensificou a proximidade do Estado com a sociedade, com seus meios de assistência e controle em muito acentua as evidências de que já vivemos o fim.
    A, pós modernidade virou tudo do avesso e generalizou a confusão. É tempo de orar mais e pregar com ousadia e como fez o Profeta Elias e também João Batista, enfrentar o Estado e suas imposições. No desfecho, Elias foi transladado, João foi morto. À Igreja está reservado também destinos semelhantes.

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