O QUE HÁ DE ERRADO COM O PAPA FRANCISCO?
por John Bugay.
Uma das respostas-padrão que os católicos romanos conservadores dão, quando apresentados a algumas das coisas que o papa Francisco tem dito, é que "nada do que ele está dizendo é contrário ao ensinamento Católico."
Levando em consideração que o conceito de algo "contrário ao ensinamento Católico" é um problema interno do Catolicismo Romano. Argumentos podem ser feitos, e têm sido feitos, de que (a) o ensino Católico Romano em si mesmo mudou significativamente nos últimos cem anos, e que (b) aquilo que é único no Catolicismo Romano não é sequer cristão.
Mas não quero seguir nessa direção por enquanto. Eu não tenho a pretensão de prover uma análise profunda do que ele está dizendo. O que pretendo fazer neste artigo é localizar o que ele está dizendo dentro de uma corrente de pensamento mais ampla e muito preocupante que tem sido identificada por escritores Cristãos nos últimos 100 anos ou mais.
UMA PERCEPÇÃO DE J. GRESHAM MACHEN
J. Gresham Machen identificou um dos grandes males do nosso tempo em seu trabalho atemporal "Christianity and Liberalism" (Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Company, 1923, reprinted 2002):
"O movimento designado como 'liberalismo' é considerado 'liberal' apenas por seus amigos; para seus oponentes, ele parece envolver uma exclusão minuciosa de muitos fatos relevantes. E inclusive esse movimento é tão variado em suas manifestações que alguém pode quase desesperar-se ao tentar encontrar qualquer nome em comum para aplicar a todas as suas formas. Mas múltiplas como são as formas em que o movimento aparece, a raiz do movimento é uma só; as muitas variedades de religião moderna liberal estão enraizadas no naturalismo - isto é, na negação de qualquer entrada do poder criativo de Deus (como distinguido do curso ordinário da natureza) em conexão com a origem do Cristianismo (Machen, 2)."
Muitos Protestantes, especialmente aqueles que são Reformados ou Presbiterianos, também lembrarão da comparação feita por Machen entre "naturalismo" e Catolicismo Romano. Comentando sobre as várias divisões dentro do Cristianismo, ele diz:
"Muito mais séria ainda é a divisão entre a Igreja de Roma e o Protestantismo evangélico em todas as suas formas. Ao mesmo tempo, quão grandiosa é a herança em comum que une a Igreja Católica Romana, com sua manutenção da autoridade da Sagrada Escritura e com sua aceitação dos credos antigos, aos Protestantes devotos hoje! Nós não obscureceríamos, inclusive, a diferença que divide-nos de Roma. O abismo é mesmo profundo. Mas profundo como ele é, ele parece quase insignificante quando comparado com o abismo que permanece entre nós e muitos ministros de nossa igreja [que estavam adotando o liberalismo nos dias de Machen]. A Igreja de Roma pode representar uma perversão da religião Cristã; mas o liberalismo naturalista não é Cristianismo de modo algum (Machen, 52)."
Nos anos 20, Machen ainda poderia dizer que "Deus" e "Jesus Cristo" tinham o mesmo significado tanto para Católicos Romanos quanto para Protestantes conservadores daqueles dias. Ambos estavam baseados na "autoridade da Escritura Sagrada" e na "aceitação dos grandes credos primitivos."
Na raiz do que estava acontecendo nos dias de Machen, na versão Cristã do "liberalismo naturalista" (como Machen o descreveu), estava uma "uma exclusão minuciosa de muitos fatos relevantes." O que isso veio a tornar-se, envolveu equívoco, pura e simplesmente: usar palavras cristãs pra descrever e até mesmo cooptar conceitos não-Cristãos.
Equívoco (usar a mesma palavra com dois sentidos ao mesmo tempo), e seu primo próximo, a anfibolia (a ambiguidade de uma construção sintática) são precisamente os fenômenos para os quais precisamos estar atentos hoje. E este é precisamente o caminho que o "filho da Igreja", papa Francisco, está tomando.
Hoje, nós não lidamos com a versão do Catolicismo Romano dos anos 20. Nós também não estamos lidando com uma versão do "liberalismo naturalista" dos anos 20.
Desde aquele tempo, outro tipo de mutação estava tomando lugar - o "liberalismo naturalista" continua negando Deus como é apresentado na verdade revelada das Escrituras (enquanto eles continuam a usar Seu nome) para identificar o que outro "Francisco", Francis Schaeffer, identificou como "absolutos arbitrários religiosamente direcionados."
Nos anos 70, Francis Schaeffer viu e identificou essa tendência tomando forma amplamente no mundo religioso. O processo de "ignorar muitos fatos relevantes" que Machen identificou ganhou uma forma ainda mais definitiva por Francis Schaeffer em sua análise da "cultura liberal," incluindo sua forma Católica Romana.
Comentando sobre a perda do conteúdo da verdade, Schaeffer descreve a forma liberal de moralidade que apressadamente preencheu o vazio (Francis Schaeffer, "O Deus que estava lá", em "The Francis A. Schaeffer Trilogy," Wheaton IL: Crossway Books, 1980):
"A sociedade não pode funcionar sem forma e motivação. Como as velhas formas sociológicas foram varridas, novas precisam ser encontradas ou a sociedade inteira quebrará. Sir Julian Huxley tocou exatamente nesse ponto com sua sugestão de que a religião tem um lugar real na sociedade moderna. Mas, ele sustentou, precisa-se entender que a religião está sempre evoluindo e que ela precisa vir ao controle da sociedade.
Esta sugestão não é tão ridícula quanto parece, mesmo vindo de um humanista convicto, se alguém entende a mentalidade da nossa era. O método dialético dominante encaixa-se facilmente dentro de formas religiosas. Depois de tudo, [Leopold] Senghor [presidente do Senegal e "provavelmente o único intelectual verdadeiro que é cabeça de um governo em qualquer lugar do mundo hoje"] disse que na base do pensamento dialético, seu país seguiria Teilhard de Chardin. É razoável lembrar que os homens agora pensam dialeticamente de ambos os lados da Cortina de Ferro.
Teilhard de Chardin, a propósito, ilustra que os teólogos Católicos Romanos "progressistas" estão muido além do Cristianismo Reformado e do Catolicismo Romano clássico, porque eles também são pensadores dialéticos.
O Catolicismo Romano ortodoxo me diria que eu seria lançado no interno por rejeitar a Igreja [de Roma]. Ele estava lidando com um conceito de verdade absoluta. Mas o novo Catolicismo romano que coloca-se ao lado da minha casa diz que 'Você está certo, Dr. Schaeffer, porque você é tão sincero.' No novo Catolicismo Romano, tal posicionamento significa que o método dialético foi assumido." (Schaeffer, 88-89)
É claro que ele está falando da dialética hegeliana, na qual uma "tese" está presente, e então uma "antítese," e então delas resulta "não um movimento horizontal de causa e efeito, mas uma síntese." Isto é, não há uma condição de "A" ou "Não A," mas as duas proposições evoluem para algo entre as duas. O conceito de "verdade absoluta" é então cortado da existência.
E mais ainda, "o novo Catolicismo Romano" não está mais interessado em "religiões orientais" (como estavam Teilhard de Chardin e mesmo Thomas Merton), mas uma forma diferente de "absolutos arbitrários religiosamente orientados."
O que Schaeffer disse em 1980 parece ter sido presciente:
"O tempo, portanto, parece certo para esta nova teologia dar as formas sociológicas e as movivações necessárias. É claro, a sociedade poderia olhar pra outro lugar entre o misticismo secular para uma nova religião evolutiva, mas a nova teologia [liberal] tem algumas vantagens [táticas].
Primeiro, as palavras de conotação indefinida que a nova teologia [liberal] usa estão profundamente enraizadas em nossa cultura Ocidental. É muito mais fácil e mais poderoso do que usar palavras novas e que não são tradicionais.
Segundo, estes homens controlam muitas das denominações do Protestantismo, e se os progressistas controlalem a Igreja Católica Romana, Roma também. Os teólogos liberais Católicos Romanos já têm grande influência na Igreja Católica Romana, e eles usam-na largamente. Isto dá aos teólogos liberais a vantagem dentro da corrente organizacional da Igreja de Roma, e então tanto a organização quanto a continuidade linguística estão a sua disposição.
Terceiro, as pessoas em nossa cultura já estão em processo de acomodarem-se a símbolos e palavras religiosas indefinidos e sem conteúdo, sem qualquer controle racional ou histórico. Tais palavras e símbolos podem ser preenchidos com o conteúdo do momento. As palavras Jesus ou Cristo são as mais lidas pelos manipuladores. A expressão Jesus Cristo tornou-se uma bandeira sem conteúdo que pode ser carregada a qualquer direção por propósitos sociológicos. Em outras palavras, porque a expressão Jesus Cristo foi separada da história verdadeira e do conteúdo da Escritura, ela pode ser usada pra engatilhar ações sociológicas religiosamente motivadas contrárias ao ensinamento de Cristo. Isto já está em evidência, como, por exemplo, na nova moralidade sendo advogada por muitos dentro da Igreja [de Roma] hoje.
Está aberta, então, para a nova teologia, a possibilidade de fornecer uma séria infinita de absolutos arbitrários religiosamente motivados. É contra tal manipulação semântica que nós nos preparamos, nossas crianças e nossas crianças espirituais." (Schaeffer, 90)
Lendo isto, foi maravilhoso pra mim precisamente o quanto Schaeffer foi presciente. Então me ocorreu que Schaeffer não foi realmente presciente; ele apenas proveu uma análise correta do mundo que ele viu, e este fenômeno que ele descreveu continua até hoje.
O que nós temos hoje são exatamente "palavras indefinidas e sem conteúdo," que, tradicionalmente, tinham significado, e que tem sido despidas de seu velho conteúdo em ordem de prover a fundação para os absolutos arbitrários religiosamente motivados progressitas de hoje.
No Catolicismo Romano hoje, está claro o que Machen chamou de "uma exclusão minuciosa de muitos fatos relevantes." Tal exclusão frequentemente vem disfarçada com o nome de "desenvolvimento" - a desorientação de um conceito - uma confusão de algumas distinções vitais que eram antigamente afirmadas.
O VATICANO II E O PROGRESSISMO
Em 1972, David Wells observou que Roma tem uma "mente dividida;" que "o Catolicismo atual, em seu lado progressista, está ensinando muitas ideias que os Protestantes liberais esposaram no século XIX."
Nos tempos do Vaticano II, deveria notar-se, ainda haviam muitos "conservadores." No "espírito do Vaticano II," os progressistas estavam lá, esposando sua agenda, com "muitos conservadores a resistir ao seu progresso." O resultado típico, em muitas questões, foram as divisões que ocorreram, de acordo com Wells, serviram para equivocar:
"Quando nenhum dos lados volta atrás e ambos insistem em manter as visões adoradas, o Concílio procurou por uma posição conciliadora que seria suficientemente ambígua para acomodar ambas as escolas de pensamento. Quando o Concílio terminou, ambos os pontos de vista estavam representados em uma afirmação que obviamente significava coisas diferentes para pessoas diferentes."
Esta ambiguidade é a razão pela qual muitos Católicos Romanos "progressistas" tem sido esperançosos através dos pontificados de João Paulo II e do papa Ratzinger de que o "progressismo" do Vaticano II surtiria efeito. Entretanto, mesmo os chamados Católicos Romanos "conservadores" agora têm sido forçados (pelo "ensinamento da Igreja" no Vaticano II) a abandonar seus próprios princípios para abraçar esta nova forma progressiva do Catolicismo Romano.
"Embora católicos progressistas sejam, em grande parte, inconscientes de seus meio-irmãos protestantes liberais, a semelhança familiar está lá. Desde que estas ideias vieram à voga no Catolicismo nas duas últimas décadas, elas parecem brilhantemente frescas e inovadoras. Para um Protestante, quer ele aprove ou desaprove-as, elas são chapéu velho." (David Wells, 'Revolution in Rome', pág.8)
Um desses conceitos "brilhantemente frescos e inovadores" pertence ao perímetro da obra do "Bom Papa João." Em seu discurso de abertura para a assembleia do Concílio Vaticano II, o "Bom Papa João" fez deste conceito, "uma minuciosa exclusão de muitos fatos relevantes," uma marca do caminho que este Concílio tomaria. Ele disse:
"A doutrina correta e imutável, à qual nós devemos sempre lembrar fielmente, deve ser examinada e exposta pelos métodos aplicáveis nos nossos tempos. Nós devemos distinguir entre a herança [ou 'depósito'] da fé em si, ou as verdades que elas contém em nossa doutrina sagrada, e nos caminhos em que estas verdades são formuladas, certamente com o mesmo sentido e significado." (citado em G.C. Berkouwer, "The Second Vatican Council and the New Catholicism," Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Company, 1965, 22.)
Agora, a expressão "mesmo sentido e significado" é onde a confusão está limitada e, de fato, por onde ela entra. É precisamente aqui onde algumas das opiniões buscadas por alguns dos membros votantes deste Concílio caíram na esfera, de acordo com seus próprios documentos, da "revelação divina."
AUSÊNCIA DE CONTEÚDO
Schaeffer, é claro, estava familiarizado com o "Vaticano II." Isto não quer dizer que um Católico Romano utiliza tipicamente a expressão Jesus Cristo equivocadamente. Schaeffer está simplesmente usando aquilo como um exemplo de como a equivocação e a anfibolia podem ser usadas pra apresentar um conceito que é exatamente oposto àquele significado usual de um termo.
O exemplo bem conhecido é a expressão (e sua doutrina subsequente) "não há salvação fora da igreja."
Quando homens como Cipriano e Agostinho disseram isso, sua intenção clara era que, se você não viesse a ser um membro da igreja (ou morresse no processo de ser um catecúmeno - que era, para todos os propósitos, uma intenção colocada para vir à igreja), não havia oportuniade de salvação em Cristo.
Contudo, nos últimos 150 anos, foi este conceito de "membro dentro da igreja" que abandonou-se, e o conceito de estar "fora da igreja" tornou-se impreciso. O pensamento é, "bem... talvez isso signifique 'estar fora da influência da igreja' - e 'a Igreja' sendo Católica, isto é, 'universal'... bem... aquela esfera realmente estende-se a todas as pessoas na terra. De alguma forma."
Tanto para Cipriano quanto para Agostinho,... bem... eles realmente não tiveram tempo para refletir, para 'desenvolver' este conceito da mesma forma que o "Magistério infalível" de nossos dias desenvolveu. Esta é uma instância muito clara na qual a Igreja Católica Romana de nossos dias professa saber mais sobre o Cristianismo verdadeiro do que homens como Cipriano e Agostinho sabiam.
Os "absolutos arbitrários religiosamente orientados" dos quais Schaeffer falou, em nossa cultura hoje, ainda são absolutos, mas eles atingiram legitimidade em esferas fora da religião, como na psicologia, lei civil, política, "politicamente correto," e normas culturais. A codificação mudou da esfera da religião para a esfera das estruturas mais amplas de nossa sociedade. Quando o presidente Obama pode falar (como ele faz amplamente) de "valores Americanos," ele não está falando dos valores dos fundadores dos Estados Unidos, mas dos valores que foram codificados agora em nossa cultura por muitos meios (casamento 'igualitário', agenda pró-aborto, LGBT, etc.).
Eu gostaria agora de falar sobre uma faceta particular que estamos vendo hoje - e ela é o 'liberalismo religioso' do novo papa, o papa Francisco.
AS POLÊMICAS DO PAPA
Um grande debate tem sido feito sobre uma entrevista do papa Francisco. Um escritor Católico Romano, Matthew Bunson, louvou-o por seu "discernimento."
"Discernimento," Francisco diz, "é feito sempre na presença do Senhor, olhando para os sinais, ouvindo as coisas que acontece, o sentimento das pessoas, especialmente dos pobres... Discernimento no Senhor guia-me no meu modo de governo."
Este método de consulta mostra que o discernimento é um pilar da vida devocional do papa, mas isso também vem de sua humildade profunda. Quando questionado com a primeira pergunta da entrevista, "Quem é Jorge Mario Bergoglio?", ele replicou, "Eu sou um pecador. Está é a definição mais acurada. Isto não é uma figura de linguagem, um gênero literário. Eu sou um pecador."
Daí vem a influência liberal, uma das palavras extraídas deste conteúdo, com os novos significados "absolutos arbitrários religiosamente orientados" incluídos. Do artigo de Bunson:
"Ele então retornou a uma das palavras-chave do pontificado: misericórdia. Ao ver-se a si mesmo como um pecador, ele falou francamente da necessidade de fazer esta primeira proclamação de que Jesus salvou-nos e que devemos lembrar aos ministros da Igreja que eles precisam ser 'ministros de misericórdia para todos.' Ele apontou para o perigo que o padre no confessionário enfrenta, de ser muito rigorista ou muito frouxo.
'Nem é misericordioso,' ele disse, 'porque nenhum deles realmente toma responsabilidade pela pessoa. O rigorista lava suas mãos ao deixar isso para o mandamento. O ministro frouxo lava suas mãos ao dizer simplesmente que, 'Isto não é um mandamento'."
Esta é uma afirmação vaga, mas o Catolicismo Romano, em seu próprio estilo pós-Vaticano II, refefiniu "o que é pecado." E o papa Francisco está redefinindo o que é "misericórdia." O problema com o método de discernimento do Papa Francisco não é o processo: É o conteúdo. É o que está "informando-o."
O que está informando-o não é uma categoria bíblica de misericórdia. Não é a misericórdia de Deus. É um tipo de misericórdia que pertence a este mundo, com seu conceito "absoluto arbitrário religiosamente orientado" de misericórdia.
Para sermos verdadeiramente misericordiosos, de uma perspectiva bíblica, precisamos primeiro entender o pressuposto em que a pessoa está - o predicado definido por categorias bíblicas - e genuinamente direcionar as "primeiras coisas" que são os primeiros males dentro de cada pessoa.
Schaeffer vai ainda além para descrever a misericórdia Bíblica em um caminho que primeiro define claramente o pressuposto em que o indivíduo está:
"Deixem-nos lembrar que cada pessoa a quem falamos, seja uma vendedora ou um estudante universitário, tem um conjunto de pressupostos, quer eles tenham analisado-os ou não."
Em nossos dias, estes pressupostos têm sido largamente atacados pela noção de que a verdade Bíblica não existe - tudo é uma questão de "interpretação."
"... Se um homem for completamente lógico em seus pressupostos, ele chegaria à conclusão lógica de seus pressupostos não cristãos. Se ele chegar nisso em seu pensamento e vida, ele seria consistente em seus pressupostos.
Mas de fato, nenhum não-cristão pode ser consistente à lógica de seus pressupostos. A razão para isso é simplesmente que um homem precisa querer e viver na realidade, e a realidade consiste de duas partes: o mundo externo e sua forma, e a humanidade do homem, incluindo sua própria humanidade.
[Nota: Para Schaeffer, "humanidade" representa o resumo total tanto da dignidade do homem que resulta de ter sido criado à Imagem de Deus, e a tragédia de ser um pecador. Ele define esse conceito como "aqueles aspectos do homem, tais como significado, amor, racionalidade, e medo do não-ser, que diferenciam-no dos animais e máquinas e dão evidência de seu ser criado à Imagem de um Deus pessoal."]
Não importa o que um homem possa acreditar, ele não pode mudar a realidade como ela é. Como o Cristianismo é a verdade do que está lá, negá-lo, na base de qualquer outro sistema, é extraviar-se do mundo real.
Todo homem, portanto, a despeito de seu sistema, está capturado. A medida em que ele tenta estender intelectualmente sua posição em um caminho lógico e então viver conforme isso, ele está capturado por duas coisas que estapeiam-lhe no rosto. Sem indicar que sua psicologia e sua filosofia estão corretas, Carl Gustave Jung corretamente observou que duas coisas cruzam todas as vontades do homem - o mundo externo e sua estrutura, e aquelas coisas que saem de dentro dele mesmo.
Pressupostos não-Cristãos simplesmente não firmam-se no que Deus fez, incluindo o que o homem é. Sendo assim, todo homem está em um lugar de tensão. O homem faz seu próprio universo e entào vive dentro dele.
A Bíblia leva esse ponto um passo adiante quando ela diz que, mesmo no inferno, um homem não pode ser consistente aos seus pressupostos não-Cristãos: "se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. (Sl 139:8)" O homem estará separado da comunhão com Deus no inferno, mas ninguém estará habilitado pra fazer do inferno seu próprio universo em uma área limitada. O homem ainda estará no universo de Deus. Daí, mesmo no inferno, o homem não pode ser consistente com seus pressupostos não-Cristãos.
Na vida presente acontece o mesmo. É impossível para qualquer não-Cristão, individualmente ou em grupo, ser consistente ao seu sistema em lógica ou em prática. Então, quando você encara o homem do século XX, seja ele famoso ou um homem ordinário das ruas, seja um homem da univerdade ou das docas, você encarará um homem em tensão; e é esta tensão que trabalha em nosso favor a medida que falamos com ele. Se eu não conheço isso a partir da Palavra de Deus e da minha experiência pessoal, eu não teria a coragem de entrar nos círculos em que eu entro. Um homem pode tentar enterrar a tensão e você talvez precise ajudá-lo a encontrá-la, mas em algum lugar há um ponto de inconsistência. Ele permanece em uma posição em que ele não pode perseguir o fim; e isto não é apenas um conceito intelectual de tensão, isto é aquilo em que ele cobriu-se naquilo que ele é como um homem." (Schaeffer, 123-133.)
O papa Francisco, antes de abordar esta tensão, procura em seu discurso efetuar a dialética hegeliana por si mesmo. Ele "dialoga" com ateístas, para encontrar algum tipo de compromisso com eles em suas ideologias. Não há qualquer insinuação em seu discurso de que ele abordará a tensão que Schaeffer descreve tão acuradamente. De fato, ele declara abertamente que seu método será dialético, que efetivamente marginaliza qualquer noção de verdade Bíblica:
"O Vaticano II, inspirado pelo papa Paulo VI e João, decidiu olhar para o futuro com um espírito moderno e abrir-se para a cultura moderna. O Concílio dos Padres soube que abrir-se para a cultura moderna significava ecumenismo religioso e um diálogo com não-Cristãos. Mas posteriormente muito pouco foi feito naquela direção. Eu tenho a humildade e a ambição de querer fazer alguma coisa."
Então aqui está o papa Francisco, dialogando com os "absolutos arbitrários religiosamente orientados" e dando sanção a eles. Dando sanção a todos aqueles "valores Americanos" que tem sido codificados em nossa cultura. Ele está dentro de uma dialética com eles e, como um resultado, a verdade Cristã já está sendo borrada.
O resultado será um desastre. Tomando esta frase do papa, "Proselitismo é um 'nonsense' solene, ele não faz sentido," (e levando em conta todo o contexto desta citação), o escritor luterano Mark Surburg escreve:
"Existem, estou certo, meios para tentar explicar a linguagem de Francisco. Mas eu acho muito difícil enquadrá-la nas palavras do nosso Senhor, "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai a não ser por mim." (Jo 14:6) Em particular, este é o caso porque Jesus não é o Caminho, a Verdade e a Vida em um senso comum de amor e fraternidade. Inclusive, Ele revela o amor de Deus em sua morte e ressurreição."
As palavras e a própria missão de Jesus são facilmente anuladas por este papa em um florescimento de ideias desprovidas de conteúdo Cristão: "O mundo é cruzado por estradas que aproximam-se juntas e movem-se à parte, mas a coisa importante é que elas levam para o Bem."
O que exatamente é o "Bem" no pensamento desse papa? Bem, de acordo com este papa, "O mais sério dos males que afligem o mundo estes dias são a falta de emprego para os jovens e a solidão para o ancião." E, é claro, n'so temos seu comentário, "quem sou eu pra julgar?", sobre padres homossexuais como um pano de fundo pra isso.
Este é o "liberalismo naturalista" do novo papa? Finalmente, o papa continua a "negar Deus como Ele é apresentado na Verdade Revelada das Escrituras, enquanto continua a usar seu nome para identificar-se com outro tipo de 'absoluto arbitrário religiosamente orientado'. Este é exatamente a "exclusão de muitos fatos relevantes" que Machen mencionou no começo de seu trabalho sobre Liberalismo.
Mesmo em nossa cultura popular hoje, há algum conceito de "certo e errado," a noção de que estas coisas tem alguma âncora absoluta. Este é um comentário de Brian Godawa, criticando a série pop "Breaking Bad":
"Um aspecto particularmente pungente da série que mostra a moderna negação humanista do mal está no grupo Narcóticos Anônimos de Jesse. Nós assistimos a eles entrando no padrão humanista de 'não julgar' e fazendo com que todos sintam-se aceitos e negando suas culpas ao mesmo tempo em que clamam por seu status de vítimas. Em um dado momento, Jesse finalmente aborrece-se de tudo isso e condena o líder do grupo por dizer que, se não devemos julgar, então estamos dizendo que nada é errado, mas que eles deveriam julgar coisas que são erradas, ou nós estaremos enganando a nós mesmos e perpetuando nossa própria maldade. Esta é realmente uma brilhante exposição da ilusão essencial da noção psiquiátrica humanista de moral relativa e de nossa cultura da negação. Nós não somos vítimas de nosso comportamento moral, nós somos responsáveis, e o julgamento provê a dignidade e o valor para nossa humanidade porque ela afirma que nós temos habilidade de escolher. É exatamente nossa culpabilidade moral que nos dá verdadeiro valor. De outra forma, nós não temos mais valor do que as rochas."
De acordo com a Bíblia, o movimento é do pó para o homem. Jesus disse que "Deus pode suscitar filhos de Abraão das rochas." (Mt 3:9) Mas o papa Francisco, com sua atitude de "quem sou eu pra julgar?," está transformando possíveis crianças de Abraão em rochas.
Tradução por Antonio Vitor.
Link original: http://triablogue.blogspot.com.br/2013/10/whats-wrong-with-pope-francis.html
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