"Estar em silêncio em um tempo como esse é negar o Senhor, abandonar a fé e ceder ao inimigo." [Rushdoony]
sexta-feira, 23 de março de 2018
NOTAS SOBRE BUDISMO E PÓS-MODERNIDADE.
NOTA 1: O naturalismo não provê sentido para o sofrimento humano. Se Deus não existe, a vida não tem sentido e o sofrimento também não tem. Essa é uma das razões, do meu ponto de vista, que alimentam a atração que o budismo exerce especialmente entre alguns jovens ocidentais.
A doutrina de Buda, com suas "4 Nobres Verdades", consegue convencer superficialmente aqueles que não encontram uma orientação diante das dores da vida. As coincidências, é claro, vão além da questão do sofrimento. No budismo, o universo também é movido por forças impessoais (o karma), assim como na cosmovisão mecanicista moderna.
Para o budismo, o universo é eterno, mas passa por períodos de contração e expansão, nos quais um ser dentre muitos nasceria como Brahma (uma espécie de deus criador) que criaria um conjunto de mundos. Esse deus criador também poderia morrer e renasceria, em seguida, em um reino celestial para aqueles que têm mérito até que outro ser, através do acúmulo de méritos, renasceria como o próximo Brahma. Embora Buda defendesse a existência deste deus criador, o universo, em última instância, não é criado por um Deus pessoal e por isso o budismo é a mais niilista das religiões. Esse deus Brahma, por não ser eterno, onisciente ou onipotente, não pode sustentar as causas necessárias para a felicidade eterna; no budismo, a felicidade e a riqueza são frutos dos méritos de vidas anteriores. Como pode haver paraíso eterno sem um deus igualmente eterno e onipotente capaz de prover as condições necessárias? A vida no budismo é, em si mesma, sofrimento, por não ter sentido. A busca da felicidade se transforma, ela mesma, em uma prisão, na qual os seres enredam-se cegamente, em vez de buscarem a "libertação" do Nirvana.
O Cristianismo, por outro lado, provê um sentido para o sofrimento. Mais do que isso, o cristianismo promete a Vida Eterna, de felicidade eterna, na presença da Santíssima Trindade. Um Deus eterno, onisciente e onipotente pode criar uma vida eterna e a eterna felicidade: por pura Graça. E isso o budismo não tem.
O absurdo, do meu ponto de vista, é que a cultura moderna - narcisista e orgulhosa de sua questionável superioridade ante o passado e o pensamento religioso - tenha resumido estupidamente a realidade à ênfase sobre a técnica, tenha fracassado tão flagrantemente em responder questões tão fundamentais como a postura que devemos ter diante da morte de um ente querido ou de uma perda financeira. Nesse universo sem sentido, e também sem padrões pelos quais estabelecer uma hierarquia de valores, não deveria ser assustador que a necessidade humana básica pulsante na Imago Dei, a necessidade de julgar entre a futilidade e a relevância, conduza milhares de jovens a entrarem em crises existenciais constantes por não terem um iPhone de última geração; a confundirem qualquer correção paterna com uma opressão fruto de uma maldade "masculina" do sistema patriarcal que remonta a um passado sombrio e mitológico. Outra alternativa para o homem não-cristão é a rebeldia pró-vida de Albert Camus, que lutou para livrar o homem do dilema do suicídio em tal mundo onde até a beleza perece ante a insignificância do mundo. Ou se pode lutar por uma revolução mundial que transforme o mundo no "novo Éden" desprovido de sofrimento pelas mãos do estado messiânico. Também é possível, para os mais céticos, reconhecer que a própria felicidade é em si uma esperança vã, abandonando tal jornada supersticiosa para apegarem-se ao hedonismo. Mas alguns destes, mais sensíveis, acabam encontrando no budismo uma forma aparentemente coerente de entender a questão do sofrimento. São estes, do meu ponto de vista, os que mais se atraem pelas doutrinas de Sidarta Gautama, o Buda.
Sem Deus, o homem moderno acaba tendo que escolher entre o suicídio, o Nirvana, as esperanças auto-hipnóticas ou a tentativa de criar um grande berço estatal, onde os bebês protegidos pelo papai estado são guardados do frio, do calor e da necessidade de trabalhar. A pós-modernidade está desesperada e devemos esperar dela toda a loucura de que um desesperado é capaz.
NOTA 2: O "pessimismo" cristão que marcou a mentaIidade ocidentaI tem base na doutrina do pecado e na miséria humana produzida por esse pecado, que o torna cego e desafinado para o propósito de si, do mundo e da relação entre ambos. O pessimismo pós-moderno, em contrapartida, tem uma base no fracasso do homem moderno em atingir aqueIe objetivo de abarcar a totaIidade do mundo e o significado da existência em sua pequenina razão Iimitada que, jogada numa diaIética com o sofrimento agora sem consoIo por causa do encIausuramento imanentista, conduz a uma síntese de desespero existenciaI simboIizada em sua percepção do absurdo. As esperanças progressistas da modernidade cederam espaço por uma grande dose de "experiência" - das quais as duas Guerras Mundiais e os genocídios do século XX são as principais - que as derrubou, uma a uma, como mitos, marcando a pós-modernidade com esse sentimento de aversão a toda forma de ordem e verdade; uma espécie de iconocIastia. A pós-modernidade tem um aspecto iconoclasta contra a modernidade.
Talvez possamos averiguar se muito dessa virada de direção ocidentaI seja fruto, antes, de uma sutiI infIuência budista em obras de homens como Schopenhauer, depois transformada por Nietzsche, ao mesmo tempo em que Nietzsche rejeita e inverte a atitude por eIe juIgada niiIista do budismo. Em suma: se tudo é mesmo uma grande porcaria sem sentido, vivamos ao máximo! E é aqui que eu penso que o cristianismo pode encontrar uma porta - e já tem encontrado - para seu retorno. Só o cristianismo pode dar sentido ao caos e sanar a ansiedade existenciaI dos nossos dias.
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