NEUTRALIDADE ou UMA RESPOSTA A RODOLFO SOUZA
por Fabrício Tavares
Qualquer um que se atente ao atual cenário teológico brasileiro sente um irreprimível anseio por glorificá-Lo em virtude dos pensadores, teólogos, pregadores e mestres que têm surgido no meio reformado, com todo afã e zelo por restaurar, mediante a pregação bíblica, a Igreja brasileira. Com efeito, mesmo em meio às trevas da mistificação religiosa e da prestidigitação ideológica, Deus tem nos concedido servos fiéis que nos apresentam raciocínios estruturados em pressupostos bíblicos.
Por outro lado, conforme já dito, uma profunda miséria intelectual aliada ao desprezo dos parâmetros morais verruma os ossos de qualquer indivíduo que não almeje sucumbir em meio às vagas do irracionalismo e niilismo de nossa cultura contemporânea. Ora, a questão do viés ideológico apontado nas questões do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é já assunto gasto, esgarçado e, como não poderia deixar de ser, satirizado de forma resignada e ressentida. No entanto, recentemente nos deparamos com o seguinte comentário do sr. Rodolfo Souza, compartilhado na página do admirável pr. Guilherme de Carvalho:
Este é o meu posicionamento em relação à questão da presença ou não de viés doutrinário na elaboração do ENEM 2015. Formei esta opinião após ler e resolver as questões de humanas e pensar sobre o quadro geral da prova e das discussões geradas por esta de sábado para hoje:
1) Como toda elaboração de conteúdo e avaliação nas áreas de humanas (sobretudo sociologia, história e filosofia), existe um predomínio de certo tipo ideológico na elaboração das questões do ENEM 2015. E não poderia ser diferente! Pois em humanas não existe neutralidade, seja na construção dos conteúdos, na escolha dos fragmentos de textos e tópicos abordados, ou na direção intencionada da resposta por parte do avaliado. Na prova de humanas do ENEM/2015 existe claramente um posicionamento geral com um viés progressista em vários temas como: crítica à globalização, crítica ao capitalismo, conexão entre a crise de 2008 e a crise no Brasil, crítica ao individualismo brasileiro, crítica à desigualdade gerada pelo capitalismo na China, identificação de questões de gênero com o dualismo corpo/identidade sexual, crítica ao "ocidentalismo", dentre outros (sem tocar a relevante temática da redação). Negar isso é de uma inocência positivista que pode muito bem ser considerado um artefato arcaico no museu metodológico moderno para o entendimento da área de humanas. Mas sei que muitos ainda seguem nesta direção. Os memes colocando Aquino, Simone e Hume como se fora expressão de pluralidade de ideias, no âmbito geral da prova, está longe de ser verdadeiro, mas demonstram como o mito da neutralidade ainda é forte na mente do brasileiro.
2) A crítica de grande parte dos conservadores (grupo do qual também me excluo por princípio, mas que tem polarizado a discussão corrente) nas redes sociais é exagerada e carente de embasamento crítico, pois não reconhece uma tendência das humanas em geral, de viés claramente progressista, não podendo ser lida, por esta razão, como um projeto exclusivo de doutrinação ideológica do governo PT. Ou seja, qualquer prova de humanas apresenta esta tendência que encontramos no ENEM. Nos EUA uma pesquisa recente identificou que de 07 acadêmicos da área de humanas (em sociologia a proporção era de 21/01) apenas 01 tinha tendências conservadoras. E creio que no Brasil esta média deve ser ainda maior a favor do progressismo (o que não é um problema em si, a não ser que se faça passar como posição livre de pressupostos, o que já é desonesto no âmbito educacional). Isto gera outro ponto, o de que quase não há pesquisa e material didático ou publicações específicas de viés conservador para as humanas com rigor metodológico e embasamento empírico. Ou seja, um equilíbrio de perspectivas neste quesito exigiria um movimento imenso de articulação cultural, produção de conhecimento e consolidação de um viés distinto do progressista para a área de humanas, o que não está no horizonte mais próximo. Por isso muitos conservadores preferem amaldiçoar as humanas em vez de reconhecer a ausência do reflexo ideológico próprio na produção de cultura em determinado campo. Alguns teóricos estão começando a denunciar este domínio das humanas por um viés específico como Christian Smith (mesmo não tendo uma direção conservadora) nas obras "The Sacred Project of American Sociology", onde denuncia a "confessionalidade" liberal da sociologia norte-americana, e a obra "What Is a Person?: Rethinking Humanity, Social Life, and the Moral Good from the Person Up", onde propõe uma discussão sobre os pressupostos por trás das teorias sociológicas, argumentando a favor de uma visão mais completa de ser humano e as consequências disto para uma teoria da ação social.
3) Os gritos de exigência de neutralidade nas provas de humanas do ENEM, ou tentativas de forçar pela via legal a neutralidade no ensino de humanas é, a meu ver, negar a origem real do problema, qual seja: reconhecer a confessionalidade na construção do conhecimento e as direções enviesadas das mesmas em sua configuração institucionalizada na área educacional mais ampla. Ou seja, enquanto uma instituição social concentrar a avaliação de conteúdos de humanas ao mesmo tempo em que não reconhece o elemento "confessional", teremos avaliações de caráter ideológico passando por mera neutralidade do conhecimento. A resolução para esta questão passaria por uma demanda de maior pluralidade por parte das instâncias do Estado, ou pela expressão mais plural de confessionalidades em instituições "livres" da tutela do Estado no que tange o acesso ao Ensino Superior, algo que estamos bem distantes de encontrar na realidade brasileira.
Particularmente, não conheço o sr. Rodolfo, e só cheguei ao conhecimento de seu texto mediante a página do pr. Guilherme de Carvalho. Sendo assim, nossos breves comentários se pautam exclusivamente nas ideias expostas acima e, mais especificamente, na apreciação do pr. Guilherme, que, a nosso ver, foi precipitada ou equivocada, gerando em alguns dos setores reformados certa perplexidade não de todo gratuita. Ora, o pr. Guilherme é um dos nomes mais proeminentes no que concerne à divulgação do pensamento neocalvinista, especialmente a filosofia dooyeweerdiana e a crítica cultural-artística de Rookmaaker. Reiteramos, então, que nosso comentário se restringe à publicação acima, a qual, segundo nosso entender, interpreta erroneamente pressupostos corretos.
Primeiramente, o que nos chama atenção é o seguinte excerto:
“Como toda elaboração de conteúdo e avaliação nas áreas de humanas (sobretudo sociologia, história e filosofia), existe um predomínio de certo tipo ideológico na elaboração das questões do ENEM 2015. E não poderia ser diferente! Pois em humanas não existe neutralidade, seja na construção dos conteúdos, na escolha dos fragmentos de textos e tópicos abordados, ou na direção intencionada da resposta por parte do avaliado.”
É justamente nas obras de Dooyeweerd e Vollenhoven (cujo artigo, por nós traduzido, pode ser encontrado neste link) que a desconstrução da neutralidade tem seu maior arsenal teórico. Partindo do conceito bíblico de “coração” (לב, leb), o centro da existência humana, o núcleo indiviso e substancial do indivíduo, em nítido contraste com a noção cartesiana dualista do “fantasma na máquina”, esses pensadores compreenderam que cada ação, pensamento ou vontade humana possui, subjacente a si, determinada cosmovisão, de maneira que, em última análise, os esforços intelectuais, morais e volitivos serão embasados e direcionados por essa visão pré-teórica. Nos dizeres de Vollenhoven, no seu artigo “O uso das Escrituras e a filosofia” (que, querendo em Deus, em breve publicaremos):
E então crescemos e passamos a conhecer nossos pais, nossos irmãos e irmãs, nosso ambiente: primeiramente o berço, em seguida, o quarto, logo, o jardim, a rua, os amigos, a escola.
Tudo isso se configure como conhecimento não-científico. Eis, portanto, a beleza disto: esse conhecimento não é uma fase passageira. Muito de nossa infância passa, todavia, o conhecimento não-científico permanece: conhecemos um ao outro como homem e mulher com o conhecimento não-científico; realizamos a maior parte de nossos afazeres com esse mesmo conhecimento.
Gradualmente uma visão se desenvolve, uma unidade da contemplação, que não é, de modo algum, uma ciência nem, portanto, uma filosofia, mas sim uma biocosmovisão: a qual as pessoas chamam ora de “humanismo”, ora “catolicismo”, “luteranismo” e “calvinismo”.
E mais adiante conclui: “A filosofia é, portanto, a ciência geral; mas não uma bacia de captação. Ora, aquilo que a cosmovisão é para o conhecimento não-científico, a filosofia é para o conhecimento científico”. Primeiramente, é interessante notar que embora tenham apresentado de forma magistral a proeminência da cosmovisão sobre o homem na sua totalidade, os neocalvinistas não foram os primeiros a confrontarem a pretensa objetividade e neutralidade das ciências. Kant, embora merecedor de várias críticas (já que sua ideia gnóstica de autonomia acabou por culminar na autosoteria dos movimentos protestantes liberais e experimentais ou carismáticos), já dizia que a ciência não pode ser objetiva, já que o cientista é um sujeito. Curiosamente alguns experimentos da mecânica quântica apontam para a influência mesma do observador sobre o objeto analisado.
Observando mais a fundo, o mito da neutralidade é evidente, e, conforme o sr. Rodolfo mencionou, até mesmo a seleção dos excertos segue um padrão ou intenção. E mesmo um filósofo católico como Milton Japiassu, Michael Polanyi ou ainda Wolfgang Smith já observaram isso.
Todavia, há um erro de categorias aqui: é certo dizer que, substancialmente, sempre iremos nos deparar com o background ou cosmovisão dos autores em seus escritos; todavia, os conteúdos das questões do ENEM, além de serem essencialmente progressistas, são também estruturados formalmente como aparato ideológico. Ora, certamente o conteúdo – a substância por assim dizer – de Mein Kempf é execrável, e a forma na qual se estrutura é política, partidária e ideológica. Se avaliássemos somente o conteúdo irrisório e absurdo dos Protocolos dos Sábios de Sião, talvez pudéssemos considerá-lo como um livro inócuo, politicamente inofensivo e desprezível; no entanto, o tom conspiracional e a polimorfia do mal nele representados se configuram como a forma mediante a qual se busca promover o antissemitismo. Em outras palavras, substancialmente o livro é insignificante, mas sua configuração interna e a intenção com a qual foi elaborado são malignas.
Nesse sentido, embora não possamos (como já disse Vollenhoven) cair nas armadilhas do binômio pagão forma-conteúdo, também não nos é possível negar a inerência desses dois conceitos que formam a totalidade da estrutura e a condição mesma de existência do objeto. Ademais, negar a tensão entre produção e intenção é ignorar simultaneamente dois planos da criação. Nos dizeres de Albert M. Wolters, temos a estrutura (da qual a filosofia se ocupa) e a direção (da qual, por seu turno, a teologia se ocupa) das coisas. A primeira diz respeito às coisas tais como elas são; a segunda, para onde as coisas se dirigem. O próprio Dooyeweerd, criticando o conceito aristotélico de substância, cunhou o termo traduzido por “sentido”.
Consequentemente, negar a intenção mediante a qual se elabora uma prova de conteúdo profundamente ideológico, moldada num formato doutrinário (basta analisar as questões de múltipla escolha, nas quais, em meio às densas trevas de opções pífias ou irracionais, a alternativa correta e de teor marxista reluz como uma aurora), com intenções partidárias demonstra uma compreensão deficiente dos mecanismos internos do totalitarismo.
Passando ao segundo ponto elencando pelo sr. Rodolfo, ele diz não se coadunar com o pensamento conservador. É lícito admitir que nos encontramos no outro lado do espectro político, pois embora saibamos que nenhuma tradição política se enquadra ou identifica perfeita e completamente com o Reino de Deus, pode-se afirmar de maneira tranquila que o conservadorismo, com seus princípios da prudência e da continuidade das tradições, não somente não se opõe ao cristianismo (como é o caso do socialismo “científico”) como, em alguns aspectos, se conforma ao pensamento cristão. Basta citar aqui os nomes de Edmund Burke, Rousas John Rushdoony, Russell Kirk, T.S. Eliot e G.K. Chesterton. Curiosamente, o título da aula de Roger Scruton no Coleridge Lectures era “Ame teu próximo”, demonstrando como o conservadorismo parte primordialmente do amor aos que já se foram (a “democracia dos mortos” nas palavras de Burke), na alegria com os homens do presente e na preocupação terna para com os que ainda virão.
Não obstante, tal questão não pertence ao nosso interesse presente, pois o que de fato nos chama a atenção é a citação da pesquisa que demonstra que a maioria dos acadêmicos possuem tendências progressistas, numa proporção descomunal quando comparada aos acadêmicos conservadores. Desconhecemos essa pesquisa e seus dados completos; mas partindo do pressuposto de que seja real (e não há razão alguma para duvidar disso), trata-se apenas de uma demonstração da efetividade do marxismo cultural, que hodiernamente já dominou a academia quase por inteiro. O que, ironicamente, acaba sendo evidência para a ideia de que as provas de ingresso universitário são simplesmente mapeamentos e preliminares ideológicas, pois há duas alternativas: ou a academia é um centro de marxização do pensamento, de modo que a maioria dos que nela adentram são doutrinados mediante todos os instrumentos cognitivos e sociais disponíveis, transformando-se em “agentes de transformação social”, isto é, idiotas úteis; ou coincidentemente a academia tem uma predileção por professores progressistas (o que também explicaria a ocupação da maioria das cátedras).
O mais assustador, todavia, é a seguinte observação feita pelo sr. Rodolfo, que revela como nosso país se encontra inconsciente das várias tradições do pensamento político conservador:
“Isto gera outro ponto, o de que quase não há pesquisa e material didático ou publicações específicas de viés conservador para as humanas com rigor metodológico e embasamento empírico. Ou seja, um equilíbrio de perspectivas neste quesito exigiria um movimento imenso de articulação cultural, produção de conhecimento e consolidação de um viés distinto do progressista para a área de humanas, o que não está no horizonte mais próximo.”
Sugiro ao sr. Rodolfo uma breve análise das publicações da editora É Realizações, ou a Vide Editorial ou, no meio reformado, a Monergismo. Apenas para citar alguns nomes do pensamento conservador já publicados no Brasil:
T.S. Eliot, Northop Frye, Roger Scruton, Theodore Dalrymple, Eugene Webb, Eric Voegelin, René Girard, Charles Taylor, José Guilherme Merquior, Richard Weaver, Gary North, Christopher Dawson, Thomas Sowell, Michael Oakeshott, Mário Ferreira dos Santos, Ortega y Gasset, Carl Schmitt, Bernard Lonergan, Edmund Burke e Russell Kirk.
Há, inclusive, um selo da É Realizações denominado irônica e magistralmente de “Abertura Cultural”, aludindo ao estreitamento intelectual de nossa atual intelligentsia.
Tratando de rigor metodológico, não há como comparar a seriedade e exatidão do pensamento voegeliano com as verborragias de um Deleuze ou uma Chauí; de semelhante modo, é impensável cotejar a maestria do estilo de Ortega y Gasset com as pantomimas prestidigitadoras de Foucault. Em suma, se há um grupo de pensadores com rigor metodológico são esses supracitados, representantes da tradição conservadora. Basta analisar a obra Insight: um estudo do conhecimento humano, de Bernard Lonergan, que vai se edificando paulatina e solidamente.
por Fabrício Tavares.
Notas do dono do blog:
1. Parece haver um menosprezo perigoso da ala progressista da igreja evangélica para com a relevância do conhecimento de autores de guerra política e conflito cultural como Antonio Gramsci. Para Gramsci, antigo membro do Partido Comunista Italiano, o avanço do Comunismo no Ocidente não deveria mais ser feito através do conflito armado e da tomada do poder a fim de só depois estabelecer a hegemonia, como era o estilo de Lenin. Para Gramsci, o processo deve fazer o caminho inverso: primeiro conquista-se a hegemonia da cultura, para só em seguida alcançar-se o poder. Isso seria necessário porque a influência dos valores cristãos na consciência ocidental fizera-se um obstáculo para o avanço do Comunismo, como notaram alguns comunistas depois do fim da Primeira Guerra, que perguntaram-se, espantados, por que razão os proletários de cada nação preferiram unir-se às chamadas "elites" de seus países, em vez de unirem-se internacionalmente. Nesse sentido, Gramsci desenvolveu uma estratégia que consistiria numa "tomada das instituições", das quais a universidade seria provavelmente a principal. O propósito seria, através da Neurolinguística e do "funil editorial" (evitar que livros contrários à visão ideológica do Partido Revolucionário fossem publicados ou reconhecidos), alterar o "senso comum", destruindo toda a noção histórica e especialmente cristã que forma a visão de mundo ocidental. E aqueles que são doutrinados na visão Comunista saem das universidades como "intelectuais orgânicos", um conceito amplo que inclui artistas, professores, jornalistas, etc. Antonio Gramsci é um velho conhecido pelas esquerdas do Brasil.
2. Não trata-se apenas, como alguns progressistas sugerem, de um debate sobre os autores em si. É necessário entender que as obras dos tais têm o intuito de causar uma crise cultural contra as instituições do país, e também de todo o Ocidente. Eric Hobsbawn, famoso historiador marxista dentro das universidades brasileiras, por exemplo, firmou a acusação de que os EUA são "imperialistas", o que tem sua razão de ser no campo econômico, o que torna o termo apenas uma adequação metafórica.. Contudo, ele nada fala sobre o verdadeiro "imperialismo soviético". A ex-URSS financiou cerca de 30 golpes de estado no séc. XX, e seu território de influência aumentou substancialmente. Em uma entrevista, Hobsbawn admitiria que o genocídio perpetrado em países comunistas seriam justificáveis caso o objetivo da "sociedade comunista" fosse alcançado. Portanto, estamos vendo a formação de uma suposta "consciência crítica" dentro das escolas e universidades, que não tem outro propósito além de criticar tudo, e fazer do socialismo a única opção messiânica para a civilização humana, a despeito de seu fracasso retumbante em todas as tentativas do séc. XX.
3. Assim que assumiu o governo, o Partido dos Trabalhadores começou uma grande reforma no ensino do país. O próprio Enem é uma de suas criações. A Ideologia de Gênero começou a ser implantada nas escolas, com a promoção de muitos trabalhos, que incluíam o antigo programa de "inclusão social" apelidado de "kit gay". Estamos, portanto, lidando com fatos. O PT é diretamente relacionado ao processo de implantação de alguns temas que não eram alvo de debates até sua ascensão. A própria Ideologia de Gênero, aliás, não possui nenhum "rigor empírico", como o sr. Rodolfo sugeriu que houvesse a fim de justificar a ausência do pensamento conservador no conteúdo da prova.
4. Para não sobrar dúvidas do viés ideológico que exclui o debate com opiniões contrárias, veja o comentário de Sérgio Nunes publicado no Facebook:
"Sobre o ENEM. Julguem por si mesmos.
Dei uma breve analisada nas 45 questões de ciências humanas, e separei alguns autores citados e temas mencionados. Será que os jovens estão sendo treinados para analisarem as diversas visões de mundo ? Ou apenas uma ?
A questão aqui não é contradizer ou discutir a opinião de algum autor específico, ou ainda algum tema, mas mostrar que apenas um lado é discutido. Seguem alguns citados e alguns temas:
- Nada como começar com o filósofo Slavoj Zizek, uma das estrelas do marxismo atual, que nesta prova, emergiu com um texto propondo um ato de alteridade, comparando a ação do exército americano com o terrorismo do Talibã.
- David Harvey, geógrafo marxista que propõe a ocorrência de um cataclisma no sistema de produção capitalista (não especificamente na questão desta prova).
- Karl Mannheim, muito influenciado pelo marxismo, apesar de posteriormente se afastar da hipótese de violência revolucionária. Estudou em um Grupo de estudos de Lukács. Na questão, obviamente propõe que a visão individual é condicionada pela sociedade.
- Simone de Beauvoir, com suas ideias feministas, arguida
por ter sido ao mínimo colaboracionista com o regime nazista, com algumas ideias que podem associar-se com pedofilia, e misandria.
- Robert Reich, democrata americano, que contra todas as evidências empíricas, propõe uma hipótese de relação inversamente proporcional entre capitalismo e democracia. Para ele: "tax are the price we pay for a civilized society". Se posiciona criticamente à teias globais.
- Milton Santos, geógrafo com posições anti-globalização, anti-capitalismo, anti-burguesia, pró-socialismo.
- Agostinho Neto, antigo governante de Angola de partido de esquerda, inicialmente marxista, posteriormente centro-esquerda.
- Maria da Glória Gohm, professora de educação da Unicamp, defensora dos Conselhos Populares e do MST.
- Paulo Freire, que dispensa apresentações, um dos pilares da falha educacional no país, com sua educação libertadora, que não educa e nem liberta.
- Sidney Chaloub, historiador da Unicamp, que afirma: " O governo Dilma foi exemplar nesses quesitos. Por conseguinte, a hipocrisia de caluniá-lo por isto é especialmente danosa à democracia e ao atual processo eleitoral".
- Ali Masrui, apesar de crítico do comunismo na África, porém tb é crítico do capitalismo e neoliberalismo no continente, com posições contra Israel.
- Jacques Le Goff que considerava-se "um homem de esquerda".
- Muniz Sodré que integra(ou) o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do governo, votou em Lula, apesar de tecer algumas críticas recentes.
- Porto Gonçalves, membro do Grupo Hegemonia e Emancipações do Conselho Latino-americanos de Ciências Sociais (Clacso). Colunista (ou ex) da Revista Carta Maior.
- Nicolau Sevchenko, que afirmou sobre a elite: "esse processo como uma espécie de estratégia dos grupos dominantes para manter o sistema de privilégios nos quais estão encastelados desde a colônia". Fala a favor de grupos civis que são críticos a biotecnologia.
- Wlamyra Albuquerque, pesquisadora que dentre seus artigos, escreveu para revista Perseu, da Fundação Perseu Abramo do
Partido dos Trabalhadores (PT).
- Lilia Morics Schwarz, professora da fflch, também empática ao conceito de conflito de classes e preconceitos, favorável a cotas.
- Ziraldo, que aparece com uma charge, não sendo demais afirmar que integrou comitiva com a Dilma, e diz que a ama.
- Sergio Buarque de Holanda , vinculado à esquerda .
- James Rachel , com tendências utilitaristas , defensor de ações afirmativas e ideias vegetarianas .
- Cita a publicação Caros Amigos, de tendência óbvia.
- De formação clássica, os únicos autores citados que detectei foi David Hume e São Tomás de Aquino.
- Em relação aos temas várias questões ambientais, a proposição de grupos criminosos como o mst como forma de atuação democrática, questiona a direção econômica da China como oposição à extinção de classes, aborda a crise de 2008 com epicentro nos EUA esquecendo da crise atual com epicentro AQUI mesmo.
Ressalto que a questão no momento (isto pode ser feito em momento oportuno) não é combater qualquer um dos aspectos acima, uma vez que os estudantes devem conhecer todos os lados e abordagens, mas sim mostrar que os estudantes tem tido acesso apenas a uma visão de mundo, sendo tolhidos de maiores incursões em uma cultura mais geral. Mostrar também mais uma ingerência ideológica governamental na educação dos jovens."